Nas ondas do rádio

Nas ondas do rádio

Eu cá em Minas Gerais estou sentindo falta de encontrar as pessoas para ouvir causos. Andar pelas ruas, sorrir, abanar a mão para os amigos. Passar na porta da quitandaria e sentir o cheiro do café com pão de queijo. Mas sei que é necessário ficar em casa. Se nesse momento de pandemia consigo suportar o isolamento, devo isso a minha família que está junto a mim; e a dois amigos que fiz há muitos anos: o livro e o rádio.

O rádio é meu companheiro de todas as horas. Gosto tanto que assim que acordo já o ligo. Primeiro ouço as notícias do estado de Minas Gerais e depois as notícias de minha cidade.

Meu gosto por essa mídia vem desde os meus ascendentes. Minha bisavó e avó gostavam de ouvi-lo Naquela época nem havia TV. E a rádio novela eram a paixão das duas. Aquela hora era sagrada para elas, também, o dia todo labutando com o serviço da casa e na educação das crianças. O rádio tinha um lugar de destaque na sala. De caixa grande e de madeira, com olho mágico para ver a sintonização da rádio era polido toda semana.

Mas havia dias que elas recebiam a visita de uma comadre com as quatro filhas, e detalhe, a comadre não gostava de radionovela, aí não tinha jeito, tinham que dar atenção as visitas. Eu acho que muito do sucesso vinha da sonoplastia. Minha mãe conta que o efeito dos trovões, da chuva, da porta se abrindo, do vento, o atrito da charrete nas pedras da rua, eram muito bem-feito, e assim as pessoas davam asas a imaginação. Ela também sempre gostou de rádio. Quando jovem ouvia muita música, e como eram bonitas e românticas! Ao som do Moonlight Serenade ela sonhava. E um dos meus tios que adorava rock, arrastava os móveis e começava a dançar.. Era uma época animada. O rádio reunia a família.

E hoje em dia, quando toca a nossa música mineira eu me emociono e as vezes até choro.

Conheci uma senhora que sempre contava casos sobre a cidade. Era bom de ouvir os relatos dela. Mineiro adora uma prosa assim. Um dia, eu curiosa, perguntei se ela andava muito pela cidade, ao que ela me respondeu: – Que nada, quase não saio, ouço rádio enquanto pedalo minha máquina de costura.

E é assim mesmo. Ouvindo e aprendendo. O rádio tem um lugar especial na minha casa.