João Brasil

Joao ensinava coisas.

Ensinava coisas, porque gostava, o João.

João adorava sua profissão.

Mas João tinha um problema. Um problema que todos nós temos: João não sabia amar.

"Meu coração é duro feito os dentes da minha vovó" em referência a dona Amélia, sua falecida vó que - reza a lenda - morreu com todos os dentes na boca.

Na verdade não era que João não sabia amar. João não conseguia amar. E existe uma linha muito pequena entre não poder, não querer, e os dois. Eu acredito piamente que João estava nessas três categorias, sério mesmo.

Oh sujeito cabeça dura, o João.

Não gostava que se intrometessem na sua vida.

"Como assim não posso xingar meus sapatos? Você por acaso é ativista dos sapatos agora?" dizia quando alguém o questionava a respeito dos seus sapatos.

Oh sujeito cabeça dura, o João.

Certo dia, quando levou uma moça pra almoçar, ele percebeu que o celular, a moça não queria largar.

Pegando-o de sua mão, ele começou a falar:

"Oh minha filha. Vê se presta atenção. Tá vendo sua comida não?"

E começava o sermão.

Oh cabeça dura, esse João.

Nos dia de aula, as crianças entravam e João logo dizia: " É melhor vocês estudarem. Porque quem ganha dinheiro nesse país só é político e jogador de futebol! O resto de vocês vai ter que trabalhar até o final da vida"

E começava o sermão.

Oh cabeça dura, esse João.

E nas eleições? Ih... Era aí que começava o furacão.

Cartazes pela cidade, dedo no ouvido: era o João com seu mega-fone e cera nos zuvido.

Dizendo assim "não vote em pilantra. Não vote em ladrão. Vote em branco pra salvar nossa população" e saia gritando no meio da cidade.

Porque oh sujeito cabeça dura, esse João.

Mas tinha um bom coração.

Que pena que o João se foi. Se foi junto com o boi, que no desfiladeiro os dois caiu, e no chão ali ficaram - e sim, nenhum dos dois rimaram.

E João, de bom coração, não sabia amar, mas adorava sua profissão.

Que era ensinar como se portar toda uma nação.