ESQUINA MARCANTE

Descendo a condução – o ônibus vermelhinho da linha 4988 – no ponto próximo da Escola Padre Sebastião Tirino, atravesso a ponte no sentido da larga avenida construída sobre a via férrea. Sigo pela estreita e ondulada Rua Padre Nico penetrando pelos domínios do Córrego da Ilha. As calçadas, que se projetam pelos dois lados da via, marcam simbolicamente um crescimento urbano sem qualquer planejamento. O pedestre precisa estar muito atento dividindo a rua com veículos e os famosos “bois de rua”. Perambulo por aqueles cantos me equilibrando pelo passeio pobre em espaço e chego até a esquina fronteiriça com o pé da ladeira que sobe até lá em cima no Morro da Cruz.

Aquela rebarba, já carcomida pelas beiradas, possui um pobre aparato de defesa contra os veículos desgovernados. São quatro barras de ferro pintadas em amarelo cravadas na vertical, mas seus corpos, já desgastados, enferrujam-se pelo tempo. Os mais engraçadinhos, porém, descascam aquela tinta para grafar seus nomes ou escreverem uma singela declaração de amor. A esquina marcante, de um jeito literal, é sempre palco de uma relada inconveniente da lataria alheia na tentativa de um veículo liberar espaço para um outro de maior porte. Ou, devido a uma falta de visão naquele entroncamento, pequenos acidentes são inevitáveis naquela esquina.

No entanto, essa virada de rua possui um significado bem mais emblemático que a torna realmente marcante. É que quando chego lá pelas bandas de Sabará para me aconchegar nos braços da minha nega, por um atraso do arrumar o visual, as vezes sou recebido por aquele sorriso arrebatador naquela esquina. Lá na rebarba, de longe, percebo naquela carinha um sentimento de felicidade pelo encontro que está por acontecer em alguns metros. Ali também deixamos nossa marca.