JOGA NO GOOGLE ! ! !
Outro dia alguém me falou de um amigo meio esquisito que mora num interiorão deste Brasil e que navega pela internet numa lun house onde a casa é de chão batido e vendem-se umas gastronomias nada a ver com as merendinhas fast food geralmente encontráveis em locais onde se reúnem pessoas para desfrutar das modernidades cibernéticas e afins. Dessa forma, fico a pensar que o "progresso" acaba esbarrando no "atraso" e dessa conjunção entre o micro e a carreta de boi, talvez surja um sub-produto cultural da mais interessante feitura. Pois imaginem alguém botando o pé no chão batido, comendo umas peculiaridades regionais e com o tempero ainda nas mãos, fazer surgir diante de uns olhos abestalhados toda essa geringonça virtual que não tem fim nem começo, não tem lado nem rumo, onde afinal é o Norte dessa coisa?
Um emaranhado de letras, chamamentos, cadastros, blogs, grupos de amizade, conversas no msn, informação e toda a parafernália desse mundo piscando seus olhos pra atrair o incauto internauta. E já dizia a letra de Rita Lee e Tom Zé: "dei um tiro no escuro, sou parceiro do futuro na reluzente galáxia.." E o tal tipo da dita lun house parecia mesmo confuso e chegou a aborrecer muita gente em um sítio onde ele acampou pra azucrinar a vida de todos. E depois confessou ao meu amigo que pretendia se matar. Se o fez, não se sabe, perdi contato como seguidamente acontece por aqui.
Mas morrer de verdade ou só sumir, parece ter nestas bandas o mesmo efeito. Uma morte verdadeira de pessoas que a gente nunca viu nem tocou, cuja respiração nunca foi percebida por nós, mesmo que tenhamos contado até nossos segredos mais guardados a essa pessoa, mesmo que nos tenhamos apaixonado pela sua forma de falar, que esse vivente tenha tocado no mais íntimo de nossa sensibilidade, ainda assim será uma morte "virtual", sem corpo presente, aliás um corpo que nunca passou nem perto de nós.
Ainda que tenhamos nos desesperado e chorado desatinadamente em momentos de desacerto com alguém muito amado, se tal pessoa vier a morrer, ainda assim, será uma morte virtual. "Saberemos" que aquele corpo não respira mais, não tem mais calor, não se movimenta mais, entretanto nunca pudemos constatar que tal criatura tivesse vida real, nunca vimos mais que uma fotografia, uma imagem congelada de um momento captado pela câmera, nunca estivemos frente a frente com o sol queimando nossa pele, cabelos ao vento, olhos apertados pela luz forte, um sorrindo pro outro, palavras fugindo, tanta coisa escrita, tanto carinho desenrolado em linhas e linhas de nossas cartas e a mudez na hora do encontro na vida real, coisa que dificilmente acontecerá. Mas como contactar com tanta gente sem ser surpreendido por uma flechada certeira, sem dó nem piedade? Sempre chega o dia em que saberemos que não há mais como recuar. Será um caminho de alegrias, encantamentos e de tristezas e desespero que se alternarão até que um dia, estando exaustos e de mãos vazias, finalmente veremos o outro como ele sempre foi: palavras, palavras e uma imagem colhida em um segundo qualquer. Não é um bom momento, posso garantir. Entretanto saberemos que enquanto durou foi infinito como fala a letra de Vinicius, "que não seja eterno posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". E como já dizia o finado, "o que se leva dessa vida são os tragos que se toma!" Afinal, pelo menos por uns meses, tivemos nossa porção de felicidade... Uma correspondência amorosa digna de ser contada num folhetim, um legítimo amor impossível, só tornado possível pela existência da internet.
E no verão passado assistimos a cena mais exorbitante em se tratando de uso da internet. Era uma praia linda, no meio da tarde, e um menino estava dentro de uma lun house diante do computador, fazia o quê? Falava com alguém no msn? Não!!! Muito pior! Estava jogando dominó com a máquina! Pois é, outro dia eu falei que ia colocar um computador no meu quarto. Aí um sobrinho falou: - é tia, mas vê se bota perto da janela, viu? Que daí tu nem vai mais sair do quarto, e se não pegar nem um solzinho tu vai ficar "vela"!
E se você mostrar muito a cara nessas paragens, descobrirá que nesse território também há aqueles que adoram uma contenda. Participei de birgas interessantes pouco depois de aportar por aqui. Era época de eleição e os ânimos se exaltavam com facilidade. Havia também outras pendengas, umas rixas no fórum onde eu e um atual grande amigo nos xingamos até a quinta geração. Foi uma briga quase "de amor" Parecia mais aqueles duelos onde os oponentes realizam uma peleia com direito a muita formalidade. Nós nos xingávamos em alto nível, querendo competir também como escritores, o que deixava a coisa mais engraçada ainda. Mas era um adversário correto. Já havia outros que partiam para uma ignorância na falta de argumentos. Nessa linha, um certo senhor me mandou fazer crochê, uma outra que se dizia psicóloga fez um diagnóstico de minha pessoa assegurando a minha insanidade mental e houve um terceiro, aliás um moço muito refinado que morou na Inglaterra e que me xingou por email, como uma barraqueira de esquina, me chamando de Dona Tania, rsss...... ai, isso é mesmo muito engraçado!!
E como disse um certo travesti se remexendo todo, quando falava da importância da Internet : Ai amiga, aqui é uma maaaraaaviiilhaaaa!! Você não sabe uma coisa? Qualquer dúvida que você tenha, tá resolvida... E revirando os olhinhos e jogando a mão para a frente com sua voz fanhosa lascou:
- JOOOGA NO GOOGLE !!!