PALHAÇADAS DA VIDA

Morrer de rir, mais que uma hipérbole, às vezes pode enganar os sentidos.

Xuko o palhaço, era um faz tudo no circo. Por natureza gostava de trabalhar e ajudava todo mundo. Parecia estar em todos os lugares. Escovava os cavalos, penteava os macacos, recolhia bosta dos elefantes, costurava o maiô dos trapezistas romenos que toda noite rasgava, caramelizava maçãs do amor, alimentava Igor, o coelho de Valentim, o mágico. No entanto, o melhor do seu dia era maquiar Anastácia, a contorcionista. Ele a amava, e fazia seu trabalho favorito bem devagar para ficar olhando aqueles olhos grandes dela.

Uma certa noite de abril, Anastácia foi embora com o vendedor de pipoca Tião e nunca mais voltou. Nessa mesma noite, depois de uma atuação incomum que fez até o mais carrancudo ogro se mijar de tanto rir, Xuko cai de costas no chão, levando todos, com lágrimas pulando dos olhos e barrigas doendo de gargalhar, aplaudi-lo de pé por cinco minutos.

Xuko foi carregado para fora do picadeiro no carrinho de bombeiros dos anões Lump e Lamp para o delírio da plateia que não sabia que ele havia morrido.

No camarim, um bilhete:

"Adeus Xuko. Obrigada por tudo. Seja feliz."

- A.