Sitônio é escritor exigente
O escritor Sitônio disse que “andava meio desanimado com sua coluna”, entendi que se referiu à coluna que sustenta suas costelas, que sentia seu espinhaço dolorido. Dores na coluna aborrecem, magoam até o espírito, tirando-lhe o sossego para escrever. A coluna dos seus artigos, das suas crônicas, jamais eu poria em questão. Assim, tendo lhe telefonado para elogiar seu texto “Tio Sam e a estação das guerras”, em A União, de domingo passado, ele me surpreendeu com outra ótima crônica: “Damião é leitor exigente”, na edição da última terça-feira. A anterior, a “das guerras” foi feita num estilo suave, mas de assunto belígero, corajoso, contundente, enquanto combateu o racismo, objeto das ainda manifestações americanas que se “viralizaram” internacionalmente, cujo estopim foi o assassinato de George Floyd. Nessa, revelou ele que esse ranço racista sempre aconteceu, por aquele país, e até no momento da escolha de jovens para morrerem na guerra, no exterior... Entenda-se: Sendo missão fácil, vão filhos de brancos; se difícil, como as batalhas “na Guerra do Vietnã, onde os EUA tiveram mais baixas do que na 2ª Guerra Mundial”, para lá muitos negros foram recrutados. Nesse aspecto, o tema é atualíssimo, apesar do isolamento decretado em razão do coronavírus, as ruas permanecem cheias de ativistas contra o racismo...
Sitônio escreve com coragem, armado com suas anotações e a pena. Dizer curiosidades é próprio dele, nunca vi essas nuanças nas idas das tropas americanas às terras estrangeiras. Trata-se de um assunto melindroso, de quem tem conhecimento das coisas, que fere a vaidade dos racistas que se considerem a cor heroína da guerra, merecedores das medalhas. São informações que orientam homens e mulheres que começam a pensar, a desviar das “falsas luzes”, e a ter coragem de discernir as certezas das incertezas da História.
Depois de ler sua extraordinária obra “Dom Sertão, Dona Seca”, qualquer leitor passa a exigir de Sitônio Pinto, em artigos, crônicas ou poemas, proximidades características da perfeição. Esse livro, muito bem escrito e literariamente de modo discorrido e poético, não enfada o leitor com palavras, expressões técnicas, nem tampouco áridas, apesar de tratar sobre o nosso sofrido semiárido. Sobre a nossa terra sertaneja, cruelmente sob o Sol paradoxal e causticante, nunca li livro igual. Leitura gostosa que consome, rapidamente, página por página. Como não se tornar dele “leitor exigente”?
Outra qualidade de Sitônio é a de não ser medroso. Quando narra as batalhas, em Princesa Isabel, parece estar com o rifle em punho, arrastando-se naquelas imensas pedras, ao lado de Zé Pereira; como se tivesse sangue de cangaceiro, dos nobres como o do maior líder do cangaço na Paraíba, Chico Pereira, pai do ex-padre, seu confrade Francisco Pereira Nóbrega que nos conta essas histórias, em Vingança, Não . O que Sitônio tem mesmo é coragem de escrever, bravura é virtude da sua arte. Tenho constatado que pensar, falar, sobretudo escrever não é permitido ao medroso. Depois que se publica o que se escreve, verba volant, e nada mais pertence ao autor. Tudo está solto à cobiça, à inveja, à posse de quem interessar possa, como se fosse bicho de valor ou de estimação solto por aí, sem dono. Exime-se o escritor apenas dos seus pensamentos secretos. Pois, ninguém pode condenar a ideia que não foi falada ou escrita. Contudo, há críticas ou censuras, até ofensivas, às simplesmente supostas ideias. Enfim, confrade Sitônio, mesmo na Academia Paraibana de Letras, só existirá “leitor exigente”, se houver escritor exigente. Caso contrário, exigir-se-á o quê?
DESTAQUE da Crônica : Ninguém pode condenar a ideia que não foi falada ou escrita
O escritor Sitônio disse que “andava meio desanimado com sua coluna”, entendi que se referiu à coluna que sustenta suas costelas, que sentia seu espinhaço dolorido. Dores na coluna aborrecem, magoam até o espírito, tirando-lhe o sossego para escrever. A coluna dos seus artigos, das suas crônicas, jamais eu poria em questão. Assim, tendo lhe telefonado para elogiar seu texto “Tio Sam e a estação das guerras”, em A União, de domingo passado, ele me surpreendeu com outra ótima crônica: “Damião é leitor exigente”, na edição da última terça-feira. A anterior, a “das guerras” foi feita num estilo suave, mas de assunto belígero, corajoso, contundente, enquanto combateu o racismo, objeto das ainda manifestações americanas que se “viralizaram” internacionalmente, cujo estopim foi o assassinato de George Floyd. Nessa, revelou ele que esse ranço racista sempre aconteceu, por aquele país, e até no momento da escolha de jovens para morrerem na guerra, no exterior... Entenda-se: Sendo missão fácil, vão filhos de brancos; se difícil, como as batalhas “na Guerra do Vietnã, onde os EUA tiveram mais baixas do que na 2ª Guerra Mundial”, para lá muitos negros foram recrutados. Nesse aspecto, o tema é atualíssimo, apesar do isolamento decretado em razão do coronavírus, as ruas permanecem cheias de ativistas contra o racismo...
Sitônio escreve com coragem, armado com suas anotações e a pena. Dizer curiosidades é próprio dele, nunca vi essas nuanças nas idas das tropas americanas às terras estrangeiras. Trata-se de um assunto melindroso, de quem tem conhecimento das coisas, que fere a vaidade dos racistas que se considerem a cor heroína da guerra, merecedores das medalhas. São informações que orientam homens e mulheres que começam a pensar, a desviar das “falsas luzes”, e a ter coragem de discernir as certezas das incertezas da História.
Depois de ler sua extraordinária obra “Dom Sertão, Dona Seca”, qualquer leitor passa a exigir de Sitônio Pinto, em artigos, crônicas ou poemas, proximidades características da perfeição. Esse livro, muito bem escrito e literariamente de modo discorrido e poético, não enfada o leitor com palavras, expressões técnicas, nem tampouco áridas, apesar de tratar sobre o nosso sofrido semiárido. Sobre a nossa terra sertaneja, cruelmente sob o Sol paradoxal e causticante, nunca li livro igual. Leitura gostosa que consome, rapidamente, página por página. Como não se tornar dele “leitor exigente”?
Outra qualidade de Sitônio é a de não ser medroso. Quando narra as batalhas, em Princesa Isabel, parece estar com o rifle em punho, arrastando-se naquelas imensas pedras, ao lado de Zé Pereira; como se tivesse sangue de cangaceiro, dos nobres como o do maior líder do cangaço na Paraíba, Chico Pereira, pai do ex-padre, seu confrade Francisco Pereira Nóbrega que nos conta essas histórias, em Vingança, Não . O que Sitônio tem mesmo é coragem de escrever, bravura é virtude da sua arte. Tenho constatado que pensar, falar, sobretudo escrever não é permitido ao medroso. Depois que se publica o que se escreve, verba volant, e nada mais pertence ao autor. Tudo está solto à cobiça, à inveja, à posse de quem interessar possa, como se fosse bicho de valor ou de estimação solto por aí, sem dono. Exime-se o escritor apenas dos seus pensamentos secretos. Pois, ninguém pode condenar a ideia que não foi falada ou escrita. Contudo, há críticas ou censuras, até ofensivas, às simplesmente supostas ideias. Enfim, confrade Sitônio, mesmo na Academia Paraibana de Letras, só existirá “leitor exigente”, se houver escritor exigente. Caso contrário, exigir-se-á o quê?
DESTAQUE da Crônica : Ninguém pode condenar a ideia que não foi falada ou escrita