O DIA A DIA
A DANÇA DOS TERRENOS
As makas que o nosso país espelha adentro, muitas vezes, são um indicador claríssimo da própria sábia paciência dos cidadãos e, fundamentalmente, da vontade política em tornar a vida dos angolanos mais martirizada possível. A vida segue num curso em que tudo indica escuridão. Fico a cogitar mbora que “o diabo assinou um pacto com esses marimbondos” que nos desgovernam há mais de 40 anos, parafraseando um deputado aí... Foram os mesmos políticos que desenharam a Constituição da República de Angola, aquela carta branca lançada à sorte em 2010. No seu artigo 15, no ponto 1, revela que a TERRA é propriedade do ESTADO. E, esse, para os mais lúcidos em matéria jurídica, é composto por terra, leis, POVO, governo...
Já não nos assusta o facto de que esses marimbondos se apropriam, sempre que querem, dos terrenos alheios, de homens e mulheres cuja nascença, diga o destino, operou-se na pátria preta, amarela, mais pintada de tão vermelho sangue. Em Luanda, já se dança essa música há tempos idos. Penso, até, que é business que dá bué de micha aos políticos. Porque não entendo, por mais esforços faça, como esses kotas, envolvidos nas vaidades, retiram o pedaço da actividade de cultivo dos cidadãos para, em contrapartida, construírem seus empreendimentos privados nos mesmos lugares.
No entanto, o que pode explicar isso é que as vaidades atingiram ao cume da exageração. Se o POVO também é parte integrante do conceito de ESTADO, então, a terra é sua propriedade por natureza angolana. Não faz sentido continuarem a tirar as terras sem explicações que vão além de ser uma conveniência vossa, deduzida de vossa grosseira, arrogância, malvadez, o que já nos é costume. Algum dia, serão os cidadãos que vos irão receber as vossas mansões, porque em muitos terrenos nos quais vivem ou vendem egoísmos, são dos pacatos cidadãos, a quem ofendem todos os [in)santos dias.
Saurimo, 10/06/2020