Identidade cacheada
A dificuldade de me identificar como "negra" durou até pouco tempo atrás. Desde os oito anos minha mãe deixou de lado os cachos que fazia no meu cabelo e o mantinha "domado", porém o nascimento de mais uma irmã, éramos quatro irmãos, ficou complicado manter o cuidado do meu cabelo e cuidar de mais três crianças... Desde então, reparei que achava bonito cabelos longos, talvez por que esse era o visual das meninas de minha idade, longos soltos, de "maria-chiquinha", "rabo-de-cavalo", mas meus cachos não eram "acalmados" facilmente, e minha mãe, por ter a profissão de cabelereira, dava conta do "rebelde".
Descobri que haviam produtos que alisavam e até davam um "certo" movimento e deixavam a falsa impressão de "liso". Nada é perfeito! Descobri rapidamente que o produto fedia como uma fralda suja, que deveria ficar no cabelo no mínimo uma hora... depois de lavado o cabelo - para retirar o produto e um pouco do fedor- a sessão de tortura continuava, enrolando "bobs"(acho que se escreve assim) e mais, aproximadamente, 40 minutos no secador de cabelos. Invariavelmente sentia as pontas das orelhas queimadas. Isso aconteceu pelo menos trinta anos na minha vida. Além do resultado ficar questionável, só ficava com seu melhor resultado, quinze ou vinte minutos. Depois, perdia sua naturalidade, balanço e se "ressentia" ao menor sinal de umidade. Sei que em nome de um ideal de beleza que aprendi a perseguir desde a infância, tornei-me escrava do meu cabelo.
"Armava" a chuva, começava a preocupação em prender o cabelo. Piscina!? Só se fosse ao lado do cabelereiro. Até o suor, melava um programa. Definitivamente era custoso brigar com minha identidade e com o espelho. Às vezes me pergunto por eu me sujeitei a isso durante tanto tempo?