O DIA A DIA

UM CARNAVAL ORÇAMENTAL

É muito preciso ter forças de aço, ferro e fogo, para continuar a ter apetites de viver em Angola, um país onde até o básico, pasme, é problema grande para os governantes e governados. Em cada ano, o governo reúne com os seus outros kambas parlamentares. Combinam quanto é que vão dar como mesada orçamental para o carnaval de sempre, em cada província. Aquelas barrigas cheias de coletes à prova de balas, dentro de carros bons — que falam —, são dalguns gajos que repetidas vezes teclam no santo botão “sofrimento” em todos anos vulgos promissores.

Feliz e infelizmente, o nosso aprumado parlamento aprova orçamentos de manteiga, aos quais nunca tem disposição para dar alguma fiscalização, como seria para dignificar as regalias, deputados seriam pessoas sérias, não alguns manos que aqui vemos, que apanham sono em plena discussão. Enquanto eles, em Luanda, o actual paraíso dos marimbondos, aprovam mais um pacote orçamental, geralmente magro, os governadores provincias ficam na guarita, bem atentos às notícias. Recebem bué de kumbu, materializam-no só mentalmente. Começam os projectos dos carnavais.

É que isso inclusive dá medo de ser abordado, aqui matavam, já não sabemos agora. Mas o novo hóspede parece também estar a seguir a onda. São muitas obras abandonadas por essse país, são uma soma *caenchi de grana investida, resultado, nada. É maka de dinheiro que tem sido pouco? Não! É uma moda já muito antiga dos políticos. Como aqui ninguém fiscaliza ninguém, os nossos dinheiros ficam congelados nas contas bancárias ditas singulares, enquanto as construções de infraestruturas de várias naturezas apodrecem nas maquetes e nos planeamentos provincais. No fim de cada ano, pammmmm: os mais velhos mandam, com bué de decorações, os relatórios positivos à nacional. O chefe agradece e reconhece o trabalho feito, tipo nada. Os deputados, com olhos vendados, é condição sine qua non, aprovam outro orçamento. Isso passa de uma geração para outra. “E a vida soma e segue.”

Angola, 09/06/2020, Poeta Ximbulikha