Tá a fim de um cinema?
Dá pra contar as vezes em que fui ao cinema. Meus dois primeiros filmes – me recordo bem – foram O Menino da Porteira (eu tinha 8 anos) e A Lagoa Azul (eu já com 12 – pode rir, eu deixo). O primeiro me fez ir pra casa a passos pensativos, e apressados para conseguir acompanhar os do meu irmão mais velho. Que pena daquele menino e daquela mãe. Eu queria que aquilo não fosse verdade. O segundo me fez sentir pecaminoso, envergonhado por ter visto cenas sensuais, e, bem de longe, o negocim do cara, filmado de baixo, conforme passa nadando. (Pensando aqui: pra ver A Lagoa, fui com dois ou três amigos, e não tivemos coragem de comentar absolutamente nada do filme depois. Éramos acanhados naquela época. Pelo menos a minha turma era.) Depois disso, me lembro de um em que há um cantor com voz aguda sobre um barco em movimento. Certamente não fui porque quis; alguém me levou. Mais tarde, já com 18 anos, um colega de pensão e eu fomos (em Rio Preto) ver o Freddy Krueger, Nightmare on Elm Street. O Pesadelo foi voltar à pensão. As calçadas estavam vazias e escuras, e meu colega, mais velho que eu, futuro médico, estava extremamente apavorado com a possibilidade de existência do personagem, que rascava os corrimãos de ferro com suas garras mortais.
O corredor que nos levava aos quartos era comprido mas, naquela noite, pareceu não ter fim. Antes de se jogar para debaixo da colcha, o futuro médico agarrou sua bíblia e a pôs no meio das pernas, certamente cagando de medo de sonhar com o Freddy. Hoje, conto isso com humor. Mas eu também estava aterrorizado. Tanto que nem me importei com o ronco do segundo colega de quarto. Aqui em São Paulo, entre final dos anos 80 e começo dos 90, fui ver A Sociedade dos Poetas Mortos, Maurice (suspeito que quase ninguém vai se lembrar ou saber de qual filme tô falando), Ghost, e devo ter visto algum outro do qual não me lembro agora. A última ocasião escura num cinema, quebrando pipoca nos dentes, foi para ver Meninos Não Choram.
Gostoso mesmo era ir ao cinema quando a sala de projeção parecia um mundo secreto. Lá dentro, a gente tinha a impressão de que era tarde da noite, fosse à noite, fosse durante as horas de sol na rua. O assoalho era incrivelmente ladeirento, e procurar um assento era uma aventura; até mesmo escolhíamos um num lugar, ruim entre aspas, só pra podermos mudar segundos mais tarde, andar pra lá e pra cá enquanto o som sensacional de abertura da sessão não ecoava pelas enormes caixas de som espalhadas por todo canto.
Era gostoso ser criança e se encantar com o raio de luz que saía de uma das fendas da parede lá em cima e chegava à tela branca, dando-lhe cores, chuviscos e ação. Eu ficava boquiaberto com tudo aquilo.
O quê? Só se for como antigamente. Se não, não.
Dá pra contar as vezes em que fui ao cinema. Meus dois primeiros filmes – me recordo bem – foram O Menino da Porteira (eu tinha 8 anos) e A Lagoa Azul (eu já com 12 – pode rir, eu deixo). O primeiro me fez ir pra casa a passos pensativos, e apressados para conseguir acompanhar os do meu irmão mais velho. Que pena daquele menino e daquela mãe. Eu queria que aquilo não fosse verdade. O segundo me fez sentir pecaminoso, envergonhado por ter visto cenas sensuais, e, bem de longe, o negocim do cara, filmado de baixo, conforme passa nadando. (Pensando aqui: pra ver A Lagoa, fui com dois ou três amigos, e não tivemos coragem de comentar absolutamente nada do filme depois. Éramos acanhados naquela época. Pelo menos a minha turma era.) Depois disso, me lembro de um em que há um cantor com voz aguda sobre um barco em movimento. Certamente não fui porque quis; alguém me levou. Mais tarde, já com 18 anos, um colega de pensão e eu fomos (em Rio Preto) ver o Freddy Krueger, Nightmare on Elm Street. O Pesadelo foi voltar à pensão. As calçadas estavam vazias e escuras, e meu colega, mais velho que eu, futuro médico, estava extremamente apavorado com a possibilidade de existência do personagem, que rascava os corrimãos de ferro com suas garras mortais.
O corredor que nos levava aos quartos era comprido mas, naquela noite, pareceu não ter fim. Antes de se jogar para debaixo da colcha, o futuro médico agarrou sua bíblia e a pôs no meio das pernas, certamente cagando de medo de sonhar com o Freddy. Hoje, conto isso com humor. Mas eu também estava aterrorizado. Tanto que nem me importei com o ronco do segundo colega de quarto. Aqui em São Paulo, entre final dos anos 80 e começo dos 90, fui ver A Sociedade dos Poetas Mortos, Maurice (suspeito que quase ninguém vai se lembrar ou saber de qual filme tô falando), Ghost, e devo ter visto algum outro do qual não me lembro agora. A última ocasião escura num cinema, quebrando pipoca nos dentes, foi para ver Meninos Não Choram.
Gostoso mesmo era ir ao cinema quando a sala de projeção parecia um mundo secreto. Lá dentro, a gente tinha a impressão de que era tarde da noite, fosse à noite, fosse durante as horas de sol na rua. O assoalho era incrivelmente ladeirento, e procurar um assento era uma aventura; até mesmo escolhíamos um num lugar, ruim entre aspas, só pra podermos mudar segundos mais tarde, andar pra lá e pra cá enquanto o som sensacional de abertura da sessão não ecoava pelas enormes caixas de som espalhadas por todo canto.
Era gostoso ser criança e se encantar com o raio de luz que saía de uma das fendas da parede lá em cima e chegava à tela branca, dando-lhe cores, chuviscos e ação. Eu ficava boquiaberto com tudo aquilo.
O quê? Só se for como antigamente. Se não, não.