IMAGEM E SEMELHANÇA
Prof. Antônio de Oliveira
“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos”. Nesse verso, o salmista, um poeta, exprime, em poucas palavras, de modo original e plástico, uma síntese. Os céus sintetizam todos os astros que habitam o firmamento, sejam eles sem luz própria, os planetas, a terra, por exemplo, seja o sol, que tem luz própria: Sunday, dia do Sol e “dies dominica”, domingo, para os cristãos, o dia do Senhor.
Numa manhã de fim de maio, depois de uma atividade física, confinados por obra e graça da desgraça de covid-19, olhei para o alto e contemplei o firmamento. Uma nuvem sequer. Céu azul, azul até demais. Minha esposa, ao meu lado, com Arte & Sensibilidade, musical inclusive, comentou, também olhando para o alto:
– Quem acaba de pintar aquele céu fez tudo de uma vez só, e não empresta tinta nem pincel pra ninguém...
Uma ideia puxa outra, uma manifestação de sensibilidade artístico-humana, qual cometa lastreado por uma longa cauda, deixa espaço para que se crie dentro daquela luz. Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano é caudatário do Criador. O que Deus pinta com apenas uma pincelada – “et Deus dixit” – se dizia “crear”, significando tirar do nada. Faça-se o firmamento e o firmamento foi feito. Deus “creou” o firmamento. A criatura humana para isso leva tempo e carece de tinta e pincel, cavalete e tela, contemplação e inspiração. Portanto, cria. Com o tempo se pôs à margem o verbo “crear”.
Discorrer sobre arte é fazer pairar, também à semelhança do Criador, o espírito sobre as águas. De noite, perscrutando a profundeza dos mares: de dia, espraiando o mistério pelos “campos infinitos da esperança”. O mal do ser humano é não se contentar de contente em ser humano: ele sempre quer ser Deus. “Eritissicut Deus...” tentação da serpente ou, no canto das sereias que assediaram Ulisses a caminho de Ìtaca: – Conhecemos o presente e o passado, e dir-te-emos o que o futuro te reserva! É aí que mora o perigo...