Desabafo Isolado II
Não. Não estamos bem. No mundo enlouquecido da terra plana, entre meninas de rosa e meninos de azul, as coisas vão de mal a pior. Enquanto Jesus observa do pé da goiabeira a horda caminhando sem noção e/ou escrúpulos, o número de mortos não para de crescer. No mundo, até agora, mais de 300 mil pessoas perderam a vida para um vírus que não resiste a sabão, água sanitária e álcool gel (mas não tome esses produtos, peloamordedeus). No Brasil, são quase 14 mil mortos até essa quinta-feira, 14 de maio de 2020: o ano do “barril dobrado”, como se diz em baianês.
Mas morrer não é suficiente para que as coisas fiquem insuportáveis. Ou, ao menos, não parece ser. Enquanto boa parte do mundo, ciente de ser a terra redonda e não plana, tenta achar uma forma de segurar as pontas desta pandemia, no Brasil a preocupação do presidente se volta à manutenção do poder e aos lucros da economia. A ameaça da pobreza é maior que a da morte. Afinal, a ideia parece ser a de estabelecer a meritocracia e, assim sendo, a democracia não serve de berço esplêndido.
Em meio a isso, todos os dias, quando acordamos, já não temos mais o tempo e, em muitos casos, as pessoas que passaram em nossa história, em nossas vidas. “Toma Cloroquina”, ele grita, enquanto manda a imprensa se calar. Parece que um monstro despertou na praça dos Três Poderes e nada o abala. Ninguém consegue conter gestos e palavras contrários à vida. Os trabalhadores, com seus parcos salários mínimos, os informais, as formiguinhas que movem a máquina capitalista, ganharam visibilidade ao sair de cena para escapar à cova rasa. Não se engane. Fique em casa. O interesse maior é a Economia. A pandemia é apenas uma forma, no Brasil, de fazer a limpa. Matar velhos, doentes e, sobretudo, pobres.
Para disfarçar a devastação dessa doença, as peças políticas são jogadas diariamente pelo mandatário e seu pequeno exército. Estamos às traças. Agora, pior do que esse indivíduo é ver, entre seus seguidores, alguns miseráveis cooptados para tal seita por promessas de não corrupção e tudo o mais, em nome de Deus.
E o Messias tem feito milagres, embora modesto e sob o palco de 10 mil mortes recentes, diga que não. O mais recente veio a público ontem, dia 13 de maio, com a publicação dos resultados negativos dos seus exames, datados de março. Um dos exames era do Paciente 05, sem CPF, sem identidade. Outro foi o de Airton Guedes, com CPF e ID do presidente. Contudo, o mais interessante levou o codinome “Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz”. Esse mora em Brasília, tem 16 anos, e figura a lista de amigos do filho 04, o “pegador do condomínio” ou Renan. É muita coincidência até para quem se rendeu ao “Mito”, que deriva de apelido de infância “Palmito” por suas pernas finas e brancas. Confesso que tive saudades de Cazuza e do seu Codinome Beija-Flor. (14 de maio de 2020).