BRASILEIROS Á HERMENÊUTICA

Como brasileiros, somos únicos. Todas as nacionalidades o são. Culturas, povos, sociedades e nações – espaços territoriais – são todos diferentes em suas totalidades e podem apresentar similaridades em suas generalizações. Portanto, somos diferentes e somos iguais. É a diversidade em movimento. Ou o movimento da diversidade.

Para expressar uma ideia acerca desta questão, escolho a variável categorial ‘hermenêutica’ para me auxiliar em uma análise simples, expositiva, sem pretensões críticas sobre este modo de ser que pode ser atribuída com exclusividade a nós brasileiros.

Hermenêutica, traduzida para uma linguagem simples significa interpretar, explicar ou ainda, no caso aqui afetado, justificar. O brasileiro encontra justificativa para tudo. E a diversidade que encontra para fazer isso cansa antes de convencer o interlocutor. Ou quem for envolvido já não liga. ‘É assim mesmo!’

Assim, por exemplo, ao chegar atrasado, o motivo não se dirige à minha responsabilidade de planejar para estar no ponto, na hora. Sempre encontro uma justificativa no outro, no trânsito, ‘despertador não tocou’, ‘mãe não chamou’... E, a situação gerada em caso de reclamar do atraso, sempre é de que o incomodado não é quem espera e sim quem chega atrasado. Ele apropria-se da razão. Como brasileiro, tenho dificuldade de assumir que, sim – estou atrasado. A hermenêutica é o recurso para criar ‘habitus’ subjetivo e perpetuar as justificativas e ausentar, distanciar a responsabilidade. É a ética do ‘EU’. Individualista, egoísta e cada vez mais isenta de assumir a responsabilidade dos atos.

Outra característica peculiar, nossa, é transferir dimensões e situações para uma totalidade da qual não fazemos parte. Pelo menos, não na ação do discurso. Assim, ‘o brasileiro não sabe votar’, ‘o brasileiro sempre dá um jeitinho’, o brasileiro é cordial’... Em todos estes e os demais enunciados da espécie está ausente o sujeito que se manifesta. A hermenêutica poupa-o de integrar o discurso. Ou porque ele não é brasileiro; ou é brasileiro, mas não se enquadra no conjunto ao qual se refere.

A hermenêutica, assim, constitui-se uma ferramenta da qual desconstruímos os significados etimológicos e desconsideramos suas variáveis evolutivas para agregar nosso jeito, o jeitinho brasileiro.