Audiência Sem Paciência
"Por que você está aqui?", perguntou-me uma colega de trabalho. Hoje não era meu dia de vir. Expliquei que segunda-feira não venho, então, tive de trocar os dias. Eu quase respondi em Francês – tinha lido, para treinar pronúncia, "L'Étranger", de Camus, em edição de luxo da Gallimard (editora que detém os direitos autorais do falecido filósofo existencialista franco-argelino, infelizmente morto em acidente de carro, oito anos antes do evento histórico denominado "Maio de 68"). Se não o fiz, é porque não compreendo francês. Leio, sim, em voz alta, apenas para treinar pronúncia. Como conheço alguns verbos e dois palavrões nesse idioma, não caio em armadilhas.
O Francês é o idioma oficial dos Estudantes de Letras das Universidades Públicas. Alguns, de Filosofia, preferem o Alemão ("está provado que só é possível filosofar em Alemão", como canta Caetano Veloso, em "Língua", canção na qual uma certa Elza Soares – o nosso Louis Armstrong de saia – faz uma ponta-em-que-apronta-e-diz-a-que-veio com sua parcela de "o que quer e o que pode esta língua"). O Francês, depois do Português – assim o vejo – é o mais belo idioma de origem latina. O Inglês a gente aprende rápido, ainda que mais por conta própria mesmo (as escolas públicas ofertam uma forma muito pobre dessa língua dominante), talvez por ser mais enxuto, não contar com tantas palavras como faz a língua francesa. Se não, vejamos:
(1) O que é isso?
(2) Ques-ce que c'est?
(3) What is that?
Desnecessário dizermos que diz-se a mesma coisa em Português, Francês e Inglês, respectivamente. Como também que em (2) vemos uma construção um tanto menos econômica, que utiliza mais palavras para dizer la même chose... Bien, c'est finis.