A BOLA E O PÊNALTI
Da cozinha vinha o melhor do calor, mas não era do fogão à lenha. Era das minhas irmãs sentadas perto dele. O pinhão dourava na chapa quase avermelhada e o leite da sopa fervia no panelão de alumínio fundido. Alguém batia os ovos misturados na farinha de trigo e o vento assobiava nas frestas da janela.
Mas o calor era o melhor de tudo.
Pensei no Gerson e na lenha que ele andara apanhando pelos terrenos baldios da cidade. Não lembrava de ter visto um fogão, nem uma irmã, na casa dele.
A casa dele era aquela que fica depois do cemitério, na estrada que leva ao morro Botucaraí.
Fui lá numa tarde de maio para ver como se costura uma bola de couro, especialidade da mãe dele.
O portão rangeu e espantou as galinhas que ciscavam à procura de minhocas no pátio umedecido pela chuva da manhã.
O ar esfumaçado da cabana denunciava o braseiro no canto da sala, mas o cheiro não era de fumaça. Lembrava o das minhas irmãs à beira do fogão da cozinha da minha casa.
O rasgo de luz de sol intrometido pela janela semiaberta incidia sobre as mãos que suturavam cirurgicamente uma bola de futebol.
Sentamos, eu e o Gerson, na tora de madeira modelada a machado para ser um banco e que ocupava o centro da cabana.
Aquele parecia ser o centro de reunião da família, pois estava separado do resto da cabana por uma cortina de bambu entrelaçada por tiras de cipó.
O pinhão que tostava sobre a chapa de ferro do fogão da minha casa não vi na casa do Gerson.
Também não vi o fogão com chapa de ferro.
Muito mais coisas que têm na minha casa não vi na casa do Gerson.
O que não esqueço é a concentração que vi nos olhos dele quando ajeitou a bola na marca do pênalti e no chute do gol que nos tornou campeões da cidade naquele ano.
Da cozinha vinha o melhor do calor, mas não era do fogão à lenha. Era das minhas irmãs sentadas perto dele. O pinhão dourava na chapa quase avermelhada e o leite da sopa fervia no panelão de alumínio fundido. Alguém batia os ovos misturados na farinha de trigo e o vento assobiava nas frestas da janela.
Mas o calor era o melhor de tudo.
Pensei no Gerson e na lenha que ele andara apanhando pelos terrenos baldios da cidade. Não lembrava de ter visto um fogão, nem uma irmã, na casa dele.
A casa dele era aquela que fica depois do cemitério, na estrada que leva ao morro Botucaraí.
Fui lá numa tarde de maio para ver como se costura uma bola de couro, especialidade da mãe dele.
O portão rangeu e espantou as galinhas que ciscavam à procura de minhocas no pátio umedecido pela chuva da manhã.
O ar esfumaçado da cabana denunciava o braseiro no canto da sala, mas o cheiro não era de fumaça. Lembrava o das minhas irmãs à beira do fogão da cozinha da minha casa.
O rasgo de luz de sol intrometido pela janela semiaberta incidia sobre as mãos que suturavam cirurgicamente uma bola de futebol.
Sentamos, eu e o Gerson, na tora de madeira modelada a machado para ser um banco e que ocupava o centro da cabana.
Aquele parecia ser o centro de reunião da família, pois estava separado do resto da cabana por uma cortina de bambu entrelaçada por tiras de cipó.
O pinhão que tostava sobre a chapa de ferro do fogão da minha casa não vi na casa do Gerson.
Também não vi o fogão com chapa de ferro.
Muito mais coisas que têm na minha casa não vi na casa do Gerson.
O que não esqueço é a concentração que vi nos olhos dele quando ajeitou a bola na marca do pênalti e no chute do gol que nos tornou campeões da cidade naquele ano.