A cor da balbúrdia antirracista
Pelo menos três vezes, enquanto assistia à Globo News, na noite de terça-feira (02), ouvi repórteres citarem "balbúrdia" entre alguns manifestantes nos movimentos antirracistas nos Estados Unidos. A expressão aspeada me causa tanta dor quando direcionada aos pretos que, de alguma forma, tentam ser ouvidos.
Óbvio que não defendo a violência, mas me bestializa ver os formadores de opinião se preocuparem mais com a "depredação de prédios, lojas de grife, patrimônio público e privado", enquanto a depredação de vidas pretas nunca chamaram atenção.
Acho muito preocupante essa associação, sempre conveniente, do preto à violência. O homem preto é o criminoso, estuprador, traficante. A mulher preta é a histérica, louca, linguaruda.
Pode-se pintar o preto de violento, apesar de inércias seculares, para institucionalizar o racismo. Por outro lado, chamam de balbúrdia uma reação que nem de longe se assemelha à escravidão ou ao extermínio de brancos.
Pretos tiveram as paredes das casas derrubadas, as terras griladas, a humanidade deturpada, a história criminalizada e as lutas usurpadas. E agora, nos atos antirracistas mostrados pela imprensa internacional, a "balbúrdia" sem cor acaba sendo pintada de preto.
Por Édrian Santos