A tensa reunião.
Mestre Rodrigão chamou todos para o interior da cabine e lá num apertado espaço tentaram recuperar suas energias e a razão, também.
As respirações ofegantes embaçavam até as janelas do barco.
O medo e as ações extremas os deixara de olhos arregalados e cabelos eriçados.
Júlio estava deitado ainda sob cobertores.
Ardia em febre.
Estava medicado, mas precisaria de um médico urgente.
Nestas situações se resolvem primeiro os problemas imediatos e quando se tem tempo para pensar é que se organiza os pensamentos.
Levantou-se a dimensão da tragédia. Mestre Rodrigão falou em voz alta, o que ninguém queria ouvir.
“Estamos a quatro dias e meio em alto mar, nosso barco não se move sozinho, está a deriva levado pelo vento e pelas ondas em direção ao norte, talvez mar adentro, já não sei.
O nosso rádio esta enguiçado
E é impossível nas condições lá fora, tentar liberar as hélices.
Nunca vi uma tempestade dessas em toda a minha vida.
Nós teremos que enfrentá-la juntos e aqui dentro por enquanto e quem souber rezar, não precisa se ajoelhar é melhor rezar se segurando em alguma coisa.
Os cuidados com a Tempestade.
Vamos aguardar com calma, e tomar mais cuidados.
Evitar que mais pessoas se machuquem.
Esperar que a tempestade passe, soltemos a hélice e o motor corresponda.
... Nesse momento uma vaga com mais de 3 metros de altura abateu-se sobre a popa. A água chegou a entrar na cabine e todos se seguraram para não cair.
Júlio que estava no estrado, caiu de cabeça no chão e O seu ferimento abriu novamente.
Fábio e Fayana o reergueram sobre a cama e começaram a cuidar do ferimento.
Novamente outra onda esparramou-se sobre o convés e entrou pela escotilha quebrando os vidros e tudo o que via pela frente.
Foram momentos de pânico em que todos se seguravam para não serem levados pelas águas barco afora.
Esperança resistia bravamente.
Já não sabiam mais quantas ondas passava por sobre a Traineira.
Sentiam que subiam, subiam e de repente, caiam e subiam novamente e caiam...
Mestre Rodrigão, mal acreditava que estavam sobrevivendo a tamanha força descomunal.
As sobras do Ciclone.
O furacão passou avassalador sobre eles, até parecia que as horas se foram com ele.
O mar demorou dois dias para se acalmar ao final dos quais poucas partes da Traineira resistiram.
Entrava água no porão e havia necessidade de sempre ter alguém lá para impedir o seu acúmulo.
O mastro não existia mais e até as redes pequenas foram levadas pela tempestade. Impressionante e negativa continuava a hélice, o emaranhado de nós permaneceu intacto,
.
E o motor era amostra dos profundos estragos, nem funcionava mais
Estavam totalmente à deriva.
O sol retornou, numa refrescante manhã.
Mas o dia foi ficando extremamente quente, dali pra frente..
A água doce escasseava,.A alimentação graças a Rita duraria mais dois dias.
Passaram-se nove dias de uma viagem que seria de cinco dias.
Não sabiam mais onde estavam.
A boa notícia é que Júlio se restabelecia dia a dia. O seu ferimento começou a cicatrizar. Roberto usava uma erva que trouxera para os pratos exóticos para criar um ungüento que fez um efeito fantástico sobre o corte.
As horas que não passsam, o socorro que não chega
Todos estavam estarrados pelos cantos..
Eles acreditavam que o pessoal de terra já tinham sentido a falta do retorno e não entendiam tanta demora.
Alguns deitavam no convés e ali ficavam horas sem falar com ninguém, apenas olhando o céu e o mar. Nenhum pássaro.
O azul tornou-se uma cor enjoativa, o que mais queriam era ver uma cor qualquer de um avião ou de um barco.
No outro dia o sol começou a ser evitado.
Os lábios se ressecavam e rachavam.
Andavam com panos na cabeça e mal conseguiam ver o horizonte com os olhos inchados.
Com o restabelecimento de Júlio alguma piada se ouvia a bordo e o ambiente ficava menos tenso sem perder a sua trágica realidade.
Comentava que a situação poderia ter sido pior, graças a Deus, nem uma única vida se perdeu até aquele momento..
A comida antes fracionada agora era racionada em só uma vez por dia e a água obtida nas câmaras frias, já sem gelo, era evitada ao máximo, chegava fétida.
A Visão de Mestre Rodrigão
Numa madrugada Mestre Rodrigão acordou sobressaltado.
Ele tinha visto o seu falecido pai apontar os dedos calejados em direção a proa do barco e sorrir.
Mestre acreditou que era um bom presságio.
Pela manhã , após uma breve e leve tempestade, sob os auspícios de um arco-íris, a Traineira foi sobrevoada por uma revoada de albatrozes que surgiram não se sabe de onde e resolveram descansar sobre o que restou do barco.
...continua Traineira Esperança - Parte XIV - As ondas - do rádio, ressurge a Esperança.
***
Curiosidades:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclone_Catarina
"...Em 26 de março de 2004, a tempestade alcançou ventos máximos sustentados com velocidades de até 180 quilômetros por hora, definida como de categoria 2 na escala de furacões de Saffir-Simpson. Neste dia o ciclone ganhou informalmente o nome "Catarina" e também passou a ser o primeiro registro oficial de um ciclone tropical no Atlântico Sul."
Mestre Rodrigão chamou todos para o interior da cabine e lá num apertado espaço tentaram recuperar suas energias e a razão, também.
As respirações ofegantes embaçavam até as janelas do barco.
O medo e as ações extremas os deixara de olhos arregalados e cabelos eriçados.
Júlio estava deitado ainda sob cobertores.
Ardia em febre.
Estava medicado, mas precisaria de um médico urgente.
Nestas situações se resolvem primeiro os problemas imediatos e quando se tem tempo para pensar é que se organiza os pensamentos.
Levantou-se a dimensão da tragédia. Mestre Rodrigão falou em voz alta, o que ninguém queria ouvir.
“Estamos a quatro dias e meio em alto mar, nosso barco não se move sozinho, está a deriva levado pelo vento e pelas ondas em direção ao norte, talvez mar adentro, já não sei.
O nosso rádio esta enguiçado
E é impossível nas condições lá fora, tentar liberar as hélices.
Nunca vi uma tempestade dessas em toda a minha vida.
Nós teremos que enfrentá-la juntos e aqui dentro por enquanto e quem souber rezar, não precisa se ajoelhar é melhor rezar se segurando em alguma coisa.
Os cuidados com a Tempestade.
Vamos aguardar com calma, e tomar mais cuidados.
Evitar que mais pessoas se machuquem.
Esperar que a tempestade passe, soltemos a hélice e o motor corresponda.
... Nesse momento uma vaga com mais de 3 metros de altura abateu-se sobre a popa. A água chegou a entrar na cabine e todos se seguraram para não cair.
Júlio que estava no estrado, caiu de cabeça no chão e O seu ferimento abriu novamente.
Fábio e Fayana o reergueram sobre a cama e começaram a cuidar do ferimento.
Novamente outra onda esparramou-se sobre o convés e entrou pela escotilha quebrando os vidros e tudo o que via pela frente.
Foram momentos de pânico em que todos se seguravam para não serem levados pelas águas barco afora.
Esperança resistia bravamente.
Já não sabiam mais quantas ondas passava por sobre a Traineira.
Sentiam que subiam, subiam e de repente, caiam e subiam novamente e caiam...
Mestre Rodrigão, mal acreditava que estavam sobrevivendo a tamanha força descomunal.
As sobras do Ciclone.
O furacão passou avassalador sobre eles, até parecia que as horas se foram com ele.
O mar demorou dois dias para se acalmar ao final dos quais poucas partes da Traineira resistiram.
Entrava água no porão e havia necessidade de sempre ter alguém lá para impedir o seu acúmulo.
O mastro não existia mais e até as redes pequenas foram levadas pela tempestade. Impressionante e negativa continuava a hélice, o emaranhado de nós permaneceu intacto,
.
E o motor era amostra dos profundos estragos, nem funcionava mais
Estavam totalmente à deriva.
O sol retornou, numa refrescante manhã.
Mas o dia foi ficando extremamente quente, dali pra frente..
A água doce escasseava,.A alimentação graças a Rita duraria mais dois dias.
Passaram-se nove dias de uma viagem que seria de cinco dias.
Não sabiam mais onde estavam.
A boa notícia é que Júlio se restabelecia dia a dia. O seu ferimento começou a cicatrizar. Roberto usava uma erva que trouxera para os pratos exóticos para criar um ungüento que fez um efeito fantástico sobre o corte.
As horas que não passsam, o socorro que não chega
Todos estavam estarrados pelos cantos..
Eles acreditavam que o pessoal de terra já tinham sentido a falta do retorno e não entendiam tanta demora.
Alguns deitavam no convés e ali ficavam horas sem falar com ninguém, apenas olhando o céu e o mar. Nenhum pássaro.
O azul tornou-se uma cor enjoativa, o que mais queriam era ver uma cor qualquer de um avião ou de um barco.
No outro dia o sol começou a ser evitado.
Os lábios se ressecavam e rachavam.
Andavam com panos na cabeça e mal conseguiam ver o horizonte com os olhos inchados.
Com o restabelecimento de Júlio alguma piada se ouvia a bordo e o ambiente ficava menos tenso sem perder a sua trágica realidade.
Comentava que a situação poderia ter sido pior, graças a Deus, nem uma única vida se perdeu até aquele momento..
A comida antes fracionada agora era racionada em só uma vez por dia e a água obtida nas câmaras frias, já sem gelo, era evitada ao máximo, chegava fétida.
A Visão de Mestre Rodrigão
Numa madrugada Mestre Rodrigão acordou sobressaltado.
Ele tinha visto o seu falecido pai apontar os dedos calejados em direção a proa do barco e sorrir.
Mestre acreditou que era um bom presságio.
Pela manhã , após uma breve e leve tempestade, sob os auspícios de um arco-íris, a Traineira foi sobrevoada por uma revoada de albatrozes que surgiram não se sabe de onde e resolveram descansar sobre o que restou do barco.
...continua Traineira Esperança - Parte XIV - As ondas - do rádio, ressurge a Esperança.
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Curiosidades:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclone_Catarina
"...Em 26 de março de 2004, a tempestade alcançou ventos máximos sustentados com velocidades de até 180 quilômetros por hora, definida como de categoria 2 na escala de furacões de Saffir-Simpson. Neste dia o ciclone ganhou informalmente o nome "Catarina" e também passou a ser o primeiro registro oficial de um ciclone tropical no Atlântico Sul."