TRENS

O conserto do carro demoraria dois dias. Essa informação fez Maria Clara precisar usar o metrô para ir ao trabalho na capital. No trem lotado, a jovem executiva teve dificuldade em encontrar um assento vago. Naquele horário uma grande massa de trabalhadores usavam esse meio de transporte. Pessoas aglomeradas, já parecendo cansadas nesse início de manhã. Olhares distantes, vagando, quem sabe, entre a lembrança de quem deixou no lar e as tarefas que o novo dia lhe traria.

Maria Clara fecha os olhos, e o seu pensamento lhe reporta para um outro trem, uma outra viagem de trem.

Mais de três décadas atrás, em uma antiga locomotiva, viajavam dona Flora com o filho pequeno, José, que com apenas dois anos viaja no seu colo. Maria Clara, saltitante ao lado da mãe, tagarela enquanto observa através da janela as paisagens que o velho trem vai deixando para trás e que até então são desconhecidas para a menina, tendo nos seus oito anos, poucas vezes saído da pequena cidade de Rosa Branca.

A viagem é longa e as crianças tem fome. A mãe desembrulha o pão com geléia caseira, que a menina esfarela sobre o assento, enquanto o cobrador recolhe as passagens e sorri para o pequeno José, que retribui com um sorriso aberto na boca lambuzada de geleia.

No enlevo das recordações Maria Clara distrai-se e, quase adormecida, sente um toque em seu ombro e uma voz masculina que lhe diz: final da linha moça.

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 01/06/2020
Reeditado em 01/06/2020
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