São Paulo meu amor, Inverno
No inverno, indefinido e impreciso testemunha do pingo vago e tremulo que clareia ao longe a primeira estrela. Busco nestas noites limpas encher meu peito de fria aragem, refrescar a cabeça, arrefecer a angústia que me oprime o peito, sentir o cheiro das estrelas.Encher os pulmões de noites frias estreladas. Embebido desta noite úmida, sinto falta do outono que distraído misturou-se ao inverno, por falta de despedida formal ou preguiça de retirar suas folhas mortas, deixa o inverno encarregado de misturar sensações e me deixar perdido sem saber o que fazer nesta estação estranha. Lembro saudoso, dos abraços verdes e floridos da primavera e das caricias de sol do verão longínquo.Me encolho no regaço dos cobertores procurando calores humanos nesta desumana solidão que me circunda.No estertor desta noite ouço ao longe o dia alçar seu vôo e espargir lentamente sua luz, “silhuetando” os prédios colorindo a madrugada, invadindo de luz minha penumbra. Espio a vida por uma fresta timidamente aberta como um fugitivo medroso deste frio que me arrepia a alma, penso no passado dadivoso e no futuro incerto como todo futuro, e imagino o que vão dizer que fui sendo que eu mesmo não sei o que sou.
Carlos Said
Recanto das letra
Por trás dos meus olhos