São João
A pequena cidade estava em festa. Era São João. Dona Quitéria estava muito atarefada há uma semana. Havia deixado seus afazeres para se dedicar aos preparativos de São João. O quintal da casa era grande, em dois níveis. No de cima colocaria o altar para o casamento. A mesa também seria posta com o melhor da comida mineira. No de baixo haveria a quadrilha, os violeiros e sanfoneiros, e claro, a fogueira.
Seu Tião também mudou sua rotina. Não ia a roça há uma semana fazer os queijos que eram a renda da família. Pediu aos filhos Pedro e João que o ajudassem na cidade e deixou os outros três filhos encarregados de fazer os queijos para que a produção não parasse.
Dona Quitéria era quitandeira de mão cheia. E os convidados mal podiam esperar para degustar suas quitandas. Mas o melhor mesmo era a canjica que ela fazia.
E nessa semana de preparativos ela teve a ajuda das filhas Lucinda, Helena e Carmelita. Contou ainda com a ajuda de vizinhas, comadres, afilhadas e irmãs. Que fartura teriam ! E há dois dias da festa puseram se a ralar milho para a pamonha e o bolo de milho. Fizeram fornada s de biscoito de polvilho, ralaram muito queijo para o pão de queijo. O trabalho era muito, mas todos se divertiam.
Lucinda e Helena decoraram o quintal com bandeirolas coloridas, fizeram o altar e com a ajuda dos irmãos levaram a mesa para fora, cobriram na com um forro xadrez, vermelho e branco. Carmelita por sua vez não ajudou muito nós preparativos porquê seria a noiva. E mais do que isso, passou a semana implorando a amiga Esmeralda que convencesse o irmão dela, Tomé, a ser o noivo. Claro que o coração de Carmelita palpitava pelo rapaz.
Chegado o dia da festa, a mesa foi posta e havia bolo de fubá, bolo de milho, milho assado, rosca, o tradicional pão de queijo, a broa de milho, requeijão, rosquinha, pamonha, mingau de milho verde, a famosa canjicada feita por dona Quitéria, cocada, doce de amendoim, quindim, quebra queixo, pudim, pipoca, biscoito de polvilho assado e Maria mole. E ainda fizeram a janta com o tradicional feijão tropeiro, frango caipira, macarronada com queijo e a couve refogada. Enquanto o licor e o quentão ficaram por conta do seu Tião.
Na hora do casório todo mundo estava se divertindo, mas de olho na mesa farta.
Carmelita era só sorrisos e não parava de elogiar a interpretação de Tomé, o noivo. Mas em poucos minutos se descobriu desinteressante para o rapaz. Ao falar com ele, notou que a atenção deste estava voltada para outro lado e curiosa prestou atenção aos olhares do moço e para sua surpresa descobriu que o coração dele estava tomado de amores por Helena. Até então, nunca havia percebido nenhum interesse de Helena por ele, mas viu que era correspondido com olhares apaixonados.
Carmelita saiu em direção a mesa e se serviu da canjica feita pela mãe, a única coisa capaz de consolar lhe, estava mesmo deliciosa. Ao tentar se servir novamente, encontrou se com a mão de Tônico que também adorava canjicada, os dois se conheciam a vida toda, mas naquele momento Carmelita e Tônico se descobriram apaixonados.