Zuzu

Cenas do cotidiano de Antonina- PR

Zuzu

Meu personagem,desconheço o nome real.Chamavam-no Zuzu!

Tudo que sei me foi passado pelos moradores da cidade capelista e que fui armazenando na intenção de um dia escrever sobre ele, assim como muitos que por lá chamavam a atenção,dado aos seus jeitos peculiares de ser.

Zuzu tinha uma vida digna,segundo dizem, possuindo uma boa moradia e família.

Mas o desventura do rapaz foi apaixonar-se por uma professora,que no entanto não lhe correspondeu ao seus sentimentos,bastando para o jovem largar-se na vida e enveredar pelo caminho do vício!

Andava Zuzu a perambular pelas ruas de Antonina,trajes rotos,sujo,a falar sozinho , a pedir aqui e ali algum trocado para a "marvada".

Vez ou outra cumprimentava meio enrolado,a mim mesma algumas vezes me dizia:

-Dia,dona!

A maior parte era até zombado provocado,alguns até lhe ofereciam mais bebida,que óbvio,não iria recusar,dado aos longos anos de etilismo .

Pobre Zuzu! Que sentimento foi aquele que o nocauteou tão depressa? Quem sabe o que vai nos corações alheios?

Comia o que lhe davam,dormia nos velhos casarões abandonados na região das antigas fábricas da outrora imponente,Indústrias Matarazzo, dos áureos tempos de impulso econômico da

cidade portuária.

E andava...andava… O dia todo,para lá,para cá,ia e vinha ,do centro à Ponta da Pita,e vice e versa.

Talvez fosse uma forma de preencher espaços vagos de sua vida,de não ver o tempo passar,de não bater de frente com sua dor,e não saber o que fazer com as vastas horas que de si mesmo sobrava,sem uma razão concreta para continuar a viver.

Passos curtos,olhar no chão,garrafinha de Zorro na mão,um pão na outra mão vezes após vezes naquele trajeto diário! Perambulando pelas ruas,anos e anos!

Era fácil reconhecer Zuzu de longe pelo modo de andar!

Nunca soube que fez mal a alguém,era um Ser que se perdeu de amor e se se perdeu de si mesmo.

Muitas vezes batia em meu portão,com umas moedas de cinco e dez centavos e dizia:

-Dona! Me de dois geladinhos!

Nessa época eu vendia sorvetes e geladinhos no alto verão! Eu os dava e recusava suas moedas,não porque não pagava o preço real,mas era um agrado ao Zuzu!

Balbuciava um obrigado meio abafado e se abalava lá para a Prainha e na volta

parava no meu portão e pedia mais geladinho! E levava mais um!

Recolhido num passado de frustrações,vagou pela vida em sua tragédia interna,o pacato andarilho!

Mas deixou sua história para ser lembrada pelos Antoninenses ou de uma Iratiense que por lá viveu muitos anos,mas sem nunca cortar os laços com sua terra natal!

Fazia dias não via o Zuzu! Soube depois.. .

Alguém o encontrou ,finalmente livre de suas aflições para sempre…

Leda Mara

Leda Mara
Enviado por Leda Mara em 31/05/2020
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