Ode à aveia
Não foi de imediato que adotei a aveia – foi uma longa parábola que descrevi na direção de uma refeição matinal mais saudável. Primeiro, eu havia passado a morar sozinho em um quarto pequeno o bastante para que fogão nenhum coubesse dentro. Com algum esforço, seria possível arrumar um lugar para um forno micro-ondas, mas eram, como agora, tempos de vacas magras em que eu não podia gastar tanto assim. Daí resulta que eu não tinha como ter água quente para o café – ou chá – da manhã. Mas eu não fazia tanta questão disso, desde que tivesse o que comer. Nos primeiros dias naquele quarto, meu café da manhã consistiu em bolachas recheadas – e o meu almoço era pastel e eu não jantava. Temerária, pois, a minha alimentação. Depois eu me ative aos pães integrais, menos gostosos que os pãezinhos a que estivera acostumado, mas muito mais em conta. Uma ou duas fatias e eu dava por feito o meu café.
Como frigobar eu tinha, poderia até tomar um copo de leite, mas a verdade é que para mim era estranho tomar só o leite, então, no fim das contas, eu não tomava nada, ou tomava água. Entretanto, o meu estoicismo não era tanto a ponto de me fazer ficar satisfeito com aquela refeição e então eu passei a pensar em como incrementar o café da manhã. A primeira ideia que me surgiu foi a dos sucrilhos. Era gostoso e me fazia lembrar os recreios de terças-feiras na escola, quando essa iguaria nos era dispensada como merenda. Jogava o leite frio em cima daquilo e estava pronto o meu café da manhã. Nessa época, porém, minha hipocondria estava em seu auge e não demorei a perceber que comer sucrilhos em todas as manhãs não representaria boa coisa para a saúde.
Uma amiga me sugeriu então a granola e eu decidi experimentar. Acostumei-me com o gosto e aquilo me deu maior segurança, ora, granola é uma coisa natural, impossível que não seja saudável. Ah, mas eu era um grande leitor das tabelas nutricionais e por isso descobri a grande quantidade de açúcar escondida sob um inofensivo pacote de granola. Por algum tempo convivi com o sentimento de culpa por estar tomando todo aquele açúcar logo de manhã, e seria isso que me levaria a experimentar a aveia.
A aveia, vocês sabem, não leva açúcar. Pode olhar no pacote, ele dirá “atenção alérgicos, contém aveia”, e mais nada. Eu não tinha como esquentar, não podia fazer “mingau”, era apenas a aveia com o leite gelado o que eu comia. Quando falei que comia assim a aveia, perguntaram se podia, mas até onde eu sei pode sim, não tem nenhuma lei proibindo. E não é que eu passei a gostar? Mas não aquela aveia de flocos finíssimos, que é, antes, uma farinha e que gruda no céu da boca. A aveia de flocos grossos ou não tão finos, semelhante a um cereal mesmo. Essa eu aprendi a saborear e com isso fiz as pazes com a minha hipocondria, pois, a menos que eu coma uns dois quilos de aveia de uma vez, ela não me faz mal algum, muito ao contrário. Auxilia o funcionamento intestinal, diminui os níveis de colesterol, diminui a liberação de açúcar no sangue, diminui os riscos de doenças coronárias, previne o envelhecimento, entre outros benefícios. Claro que falo da aveia pura, só com leite, e não banhada em um iogurte repleto das gorduras e dos açúcares. Não coloco banana e não coloco mel: no meu café, só quem reina é a aveia.
De fato, aquele senhorzinho da Quaker tem sido uma presença constante na minha vida, a ponto de não lembrar de, estando em casa, ter feito um só café da manhã nos últimos cinco, seis anos, em que ele não estivesse. Hoje estou em condições de tomar um chá, mas ele apenas acompanha a aveia com o leite, e claro está que também não abri mão dos pães – como uma fatia após a aveia, a parte principal.
Essa fatia de pão eu como sem margarina, sem manteiga e sem óleo – sem nada, na verdade. Mas isso já é assunto para outra crônica.