DIAS MELHORES.
Não há muito o que se fazer.
Sim... Não há muito o que se fazer nos dias atuais. Os parques estão fechados, shoppings, cinemas, e por aí vai. Antes de tudo acontecer, quando o mundo respirava sem máscaras no rosto, íamos para todos os lados sem a menor preocupação. Não importava o ônibus lotado, nem aglomerações, o centro da cidade era endereço certo, lojas e mais lojas, roupas, calçados, brinquedos, perfumarias, multidão de pessoas e tantas outras coisa. Não era necessário nem ter dinheiro no bolso, bastava estar presente, perambulando somente com o valor da passagem e pronto. Eu em particular adorava ir aos sebos quase todas as vezes que estava pelo centro comercial de Sorocaba. O cheiro dos livros, as prateleiras enormes brilhando no fundo dos meus olhos, títulos e mais títulos, livros pequenos e grandes, de todas as cores. Sempre, quando estou nos sebos, fico namorando determinado livro, olho uma vez, duas três, guardo-o novamente, dou uma ou duas voltas olhando outros títulos, de repente, lá estou novamente com o admirado livro nas mãos. Foi assim quando comprei ( As Benevolentes de Jonathan Littell ), pior um pouco quando comprei ( A montanha mágica de Thomas Mann ). Lê-los então é outro carnaval. Ensaio mil vezes antes de iniciar, e quando começo simplesmente devoro suas páginas.
Mas… Tudo mudou.
Sim amigos leitores, tudo mudou. Os nossos dias são marcos na história, gerações futuras falarão desses dias tão terríveis, onde um vírus dominou a terra inteira. As pessoas sentem falta de passear nos parques, até aquelas que nunca fizeram uma caminhada na vida estão sentindo falta de sair, de conversar, abraçar, olhar nos olhos, do aperto de mão.
De repente, tudo isso passou a ser proibido. Muitos jovens se derramam na internet como se ela fosse a única tábua de salvação disponível. Ir ao cinema tornou-se um sonho, os jovens fazem planos e mais planos para quando tudo isso passar e a vida voltar a normalidade.
Pergunto-lhes: A vida voltará ao normal?
Estou neste momento na cozinha da minha casa, sentado em uma cadeira com as pernas esticadas em outra, caderno e caneta nas mãos, estou de frente ao relógio, que, furiosamente apresenta cada tic e tac. Sim, primeiro escrevo a mão. Eu sou um entre tantos a rabiscar na agenda seus muitos planos. Quanto à cumpri-los, bom... Só o tempo nos dirá.
Do lado de fora o mundo urge, grita como uma fera presa, deseja escapar da jaula do ócio. O mundo quer ver o mundo novamente em pleno funcionamento, porém, parece haver estranhas travas impedindo que as engrenagens desse monstro se mova novamente.
Todos sabemos, entretanto, fingimos não saber de nada do que está acontecendo ao nosso redor. Esperamos por dias melhores com a falsa esperança de que eles realmente chegarão em breve.