Eu era filho de Deus e não sabia

Eu leio muitas Crônicas esperando que a Crônica seja iniciada.

Ela termina e percebo o meu ledo engano, acabo chupando manga e comendo bagos de uvas com o passar das horas e não me satisfaço.

Está difícil eu rir nesses dias em que o presidente da Brasilândia está nervoso por coisinha a toa.

Coisa de família.

Voltando as Crônicas, é interessante aquelas que nunca nós tivemos coragem de escrever.

Faço uma abaixo, onde a baixeza me desfaz.

Foi um roda a roda com uma guria, naquela idade danada dos 15.

...Chamaram-me.

Eu estava infantilmente jogando bola feita de meias velhas e panos encardidos, num campo de futebol..era 17:15 horas e foram seis marmanjos, mais ela, capoeira adentro.

Eu fiquei só olhando de longe, apesar das chamadas insistentes, em gestos dela para participar.

Foi uma experiência pessoal agressiva.

Eu descobri desejos escondidos, forças voluptuosas incontidas e que a perversidade humana estava dentro de mim, também.

Assim nós crescemos cada um desatando os seus próprios nós.

Soube mais tarde que ela faleceu ainda jovem, até hoje, já na beira da estrada, eu fico lamentando a morte dela e os caminhos das drogas da vida que ela seguia.

Talvez o maior pecador fui eu que nada fiz.

Apenas olhei tudo aquilo com um olhar inescrupuloso e até doentio.

Pouco mudei.

Hoje, vendo o meu Brasil ser demolido, depravado dia a dia e com um governo chamando-me em gestos com um dedo, para eu sentar encima e discutir os planos de suicídios para a nação.

Enfim, eu nunca deveria ter saído por aquela porteira de três paus, lá do sítio dos meus avós.

Lá eu era gente, filho de Deus e não sabia.

Robertson
Enviado por Robertson em 30/05/2020
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