Fake news : mentira má ou má mentira
Nas histórias de Trancoso, narradas pelas contadoras de história, como era tia Dulce, muito havia fantasias. Além de fantasiosas, algumas delas eram assombrosas, assustadoras, como as de lobisomem, por aqui, e as da cruviana, durante os trovões, nas noites chuvosas do sertão. Assim, nós, crianças, ao dizermos alguma coisa que não fosse “verdadeira”, éramos admoestados: “Deixe de história de trancoso”, o que valeria a ouvir “não minta”! Dizia-se também: “Mentira tem pernas curtas”. Todos esses contos, variando pelo chamado de “trancoso” ou de “troncoso”, tinham um fundo moralista e, ao final, ressaltava-se a moral da história contra a mentira ou exaltava-se a sinceridade que motiva a não mentira; e a insinceridade, a mentira. Talvez, no caso, tinha-se como defeito comum às crianças mentir, ao negar ou ao esconder peraltices e travessuras.
Sem que citassem “As aventuras de Pinóquio”, aqui e acolá, a contadora, mesmo matuta, alertava que “em quem mente o nariz cresce”. A risadaria era geral, um apontando o outro: “Tua venta é grande” ou “a tua é maior”; e, de repente, iniciava-se uma briga, acalmada pela narradora que reunia a meninada. Ignoro, contudo, como teria acontecido às contadoras de história, das mais interioranas cidades, que, na Itália, em 1883, o ex-seminarista escritor, Carlo Collodi, criador de Pinocchio, teria caracterizado esse boneco de madeira com um enorme nariz e que assim seu “nasone” teria crescido à proporção em que mentiu. Ao conversar sobre isso com o mestre Milton Marques, levantei a hipótese de que tal crescimento do nariz, de mentiroso, teria sido trazido às terras brasileiras por algum emigrante ou principalmente por algum missionário italiano. Ele concordou, mas foi além, aventando que poderia ter sido também fruto do “inconsciente coletivo”; que a relação do crescimento do nariz com a mentira poderia ter ocorrido também, diversamente, em outras partes do mundo. Não discordei, pensei ser fácil inventar que o castigo de se hipertrofiar o nariz de quem mente fere, punitivamente, qualquer vaidade, já que ele é a parte visível mais saliente da cara... Contudo, a experiência da vida me fez desacreditar desse prometido fenômeno. Há poucos dias, vi, em imagens virtuais, mentiroso e mentirosa de nariz curto e pequeno, tal qual a venta da coruja.
O trato com esse tipo de gente não merece a proteção ou os benefícios da variação semântica, que ocorre quando se fala “boa mulher” ou “mulher boa”. Quando se quer ofender alguém, tanto em “mentira má” como em “má mentira”, há supina e igual maldade. Não importa em qual lado do substantivo, coloque-se o adjetivo. Exceção permitida à mentira só à qual gostava Ariano Suassuna, jocosa, literária, que não traz ofensa odiosa ao outro, a ninguém. As fake news são perversas e utilizadas com a finalidade de desabonar a biografia de uma ou mais pessoas, e as de até conduta irreprochável, como também conturbar o bem na ordem pública . Tais crimes, cometidos nas “redes sociais”, devem ser considerados objetos contra a reputação alheia e de função antissocial, sobre os quais deveríamos sempre mover ações judiciais. Não vamos esperar que seus narizes cresçam, para descobrirmos tais irresponsáveis... Devemos, de pronto, ostentar, desses fanáticos, persuasivos pervertidos, maquinadores do ódio, suas características cínicas e inidôneas, que propagam a desarmonia; mesmo que esses não se envergonhem de fazer coisas sujas, como a fake news. Enfim, a amaldiçoada fake news é a desonestidade dos estúpidos, muito mais perigosa e má do que aquela despretensiosa mentira dos inteligentes que, quando honestos, são, todavia, caluniados.
Nas histórias de Trancoso, narradas pelas contadoras de história, como era tia Dulce, muito havia fantasias. Além de fantasiosas, algumas delas eram assombrosas, assustadoras, como as de lobisomem, por aqui, e as da cruviana, durante os trovões, nas noites chuvosas do sertão. Assim, nós, crianças, ao dizermos alguma coisa que não fosse “verdadeira”, éramos admoestados: “Deixe de história de trancoso”, o que valeria a ouvir “não minta”! Dizia-se também: “Mentira tem pernas curtas”. Todos esses contos, variando pelo chamado de “trancoso” ou de “troncoso”, tinham um fundo moralista e, ao final, ressaltava-se a moral da história contra a mentira ou exaltava-se a sinceridade que motiva a não mentira; e a insinceridade, a mentira. Talvez, no caso, tinha-se como defeito comum às crianças mentir, ao negar ou ao esconder peraltices e travessuras.
Sem que citassem “As aventuras de Pinóquio”, aqui e acolá, a contadora, mesmo matuta, alertava que “em quem mente o nariz cresce”. A risadaria era geral, um apontando o outro: “Tua venta é grande” ou “a tua é maior”; e, de repente, iniciava-se uma briga, acalmada pela narradora que reunia a meninada. Ignoro, contudo, como teria acontecido às contadoras de história, das mais interioranas cidades, que, na Itália, em 1883, o ex-seminarista escritor, Carlo Collodi, criador de Pinocchio, teria caracterizado esse boneco de madeira com um enorme nariz e que assim seu “nasone” teria crescido à proporção em que mentiu. Ao conversar sobre isso com o mestre Milton Marques, levantei a hipótese de que tal crescimento do nariz, de mentiroso, teria sido trazido às terras brasileiras por algum emigrante ou principalmente por algum missionário italiano. Ele concordou, mas foi além, aventando que poderia ter sido também fruto do “inconsciente coletivo”; que a relação do crescimento do nariz com a mentira poderia ter ocorrido também, diversamente, em outras partes do mundo. Não discordei, pensei ser fácil inventar que o castigo de se hipertrofiar o nariz de quem mente fere, punitivamente, qualquer vaidade, já que ele é a parte visível mais saliente da cara... Contudo, a experiência da vida me fez desacreditar desse prometido fenômeno. Há poucos dias, vi, em imagens virtuais, mentiroso e mentirosa de nariz curto e pequeno, tal qual a venta da coruja.
O trato com esse tipo de gente não merece a proteção ou os benefícios da variação semântica, que ocorre quando se fala “boa mulher” ou “mulher boa”. Quando se quer ofender alguém, tanto em “mentira má” como em “má mentira”, há supina e igual maldade. Não importa em qual lado do substantivo, coloque-se o adjetivo. Exceção permitida à mentira só à qual gostava Ariano Suassuna, jocosa, literária, que não traz ofensa odiosa ao outro, a ninguém. As fake news são perversas e utilizadas com a finalidade de desabonar a biografia de uma ou mais pessoas, e as de até conduta irreprochável, como também conturbar o bem na ordem pública . Tais crimes, cometidos nas “redes sociais”, devem ser considerados objetos contra a reputação alheia e de função antissocial, sobre os quais deveríamos sempre mover ações judiciais. Não vamos esperar que seus narizes cresçam, para descobrirmos tais irresponsáveis... Devemos, de pronto, ostentar, desses fanáticos, persuasivos pervertidos, maquinadores do ódio, suas características cínicas e inidôneas, que propagam a desarmonia; mesmo que esses não se envergonhem de fazer coisas sujas, como a fake news. Enfim, a amaldiçoada fake news é a desonestidade dos estúpidos, muito mais perigosa e má do que aquela despretensiosa mentira dos inteligentes que, quando honestos, são, todavia, caluniados.