O Namorado
Nunca tinha comido uma pizza que não fosse pedaço meio frio no balcão da padaria. Nunca tinha ido a uma lanchonete que não fosse a cantina da escola. Nunca tinha experimentado um chope. Nunca tinha amado.
Era meio da semana e ele tinha me convidado pra ir a uma pizzaria, tomar um chope e comer pizza – e conversar. Marcamos na esquina da escola.
E lá estava eu, a tremer dos pés a cabeça, sem saber se era permitido, ou o que era permitido – sabendo somente que meu coração estava aos pulos. Entrei em seu carro – o fusca azul, e lá fomos nós. Céus, lembro como se fosse hoje, ou ontem a tarde. Lembro-me da blusa azul com pequenos corações em preto. A calça Jeans nova – US Top. Muito comum naquele início de década.
Ofereceu-me um chope e um cigarro. Soltava a fumaça em aros brancos enquanto me contava sua vida, seu dia, suas histórias, e crivava-me com seus olhos verdes, o cabelo escuro, em ondas, a cair na testa. O cheiro da loção de barbear, a camiseta, o jeans – tudo era perfeito em minha vida de adolescente.
Ofereceu-me pizza de pimentão. Nunca havia comido. Nem sequer gostava de pimentão, mas já que dizia ser boa, eu aceitei. E não é que era boa mesmo! Comemos outras coisas, e a conversa, tão doce quanto o olhar, quanto a noite e a lua que brilhava lá fora – tudo a me encantar.
E eu sabia – na minha tão casta inocência que o amava.
Pela vida a fora, outros encontros eu tive. Uns bons, outros ruins. Mas de todas as vezes que eu amei – amei ali, no primeiro ato, e ali naquele primeiro ato eu sempre sabia que era amor, e que era para ficar. Foram poucas as vezes que amei, mas em todas elas o amor foi profundo. Em todas elas ficaram marcas, saudade e sempre demorou muito pra ir embora. Fui alegre, fui triste, e alegre de novo, e feliz, e em outras infeliz, mas jamais poderei dizer que não amei.
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