INTOXICAÇÃO MIDIÁTICA. INFORMAÇÃO OU DEFORMAÇÃO?

Acho que as pessoas de mais sensibilidade estão intoxicadas pelas notícias recorrentes de efetivas desgraças, mau presságio e confusas. Sobra ainda os que nada tem a informar, ensinar ou dizer, e restam a dizerem "coisas" em nada pertinentes.

Desligo esse convívio da informação em geral inútil, preservado, lógico, os livros, mas ela entra e se apossa de mim pelos poros, por osmose, mesmo evitando-a.

Moro na cidade, sou da cidade, frequento a cidade, hoje mais isolado, sou cosmopolita e um cidadão do mundo pelas informações presenciais ou por literatura que dele tenho e conheço.

Com força extrema está se tornando insuportável esta torrente que desce como lava pela encosta da globalização, preenchendo todos os espaços sadios e tornando-os doentes, assolando o mundo com terrores e horrores, agora bem mais, e com insciência robusta e corajosa.

E é por isso , faz tempo, fechei mais meu interior para a informação em geral, midiática, que nada soma para ninguém, para mim só avaliação, zero para meu patrimônio pessoal, sob todos os ângulos, biombo que é de todos os pecados, desde os veniais aos capitais. Lembro de artigo de excelente cronista Lya Luft . Perfeito para quem se acha com meu estado de espírito diante do trânsito deformativo-informativo que inverte a ordem natural de tudo que se possa esperar do ser humano.

E pergunta-se, é ele, o ser humano, que pede essa destinação da informação, para ser abrigo de tudo que não presta? É depositário e reivindica essa patologia para guardá-la em seu interior?

A seta da singularíssima cronista aponta para a grande complexidade cujo nó dificilmente se desata, nessa suma: “Se em vez de querermos atordoadamente ter e aparecer, participar e pertencer e sobressair, pensarmos em alegrias e afetos; se acreditarmos que o bom e o belo são possíveis, apesar de tudo; se conseguirmos ser um pouco menos cegos e arrogantes, quem sabe começaremos a cair na real e a ajeitar a ordem do mundo que anda tão torta”.

Fecha a reflexão com a solução mais viável, ao meu sentir, forte no meu credo, depois da profunda exortação acima transcrita, e o faz nessa sabedoria, singela e lógica: “Não acredito em grandes mudanças neste tempo de ideologias confusas e cabeças loucas, em que a gente muda de partido ou ideal como quem compra um celular novinho. Mas tenho esperança em algumas transformações individuais. Talvez esteja me tornando ferrenhamente individualista, não por egoísmo, mas por esperar que cada um tente fazer a sua pequena parte.”

É o que falta, que cada um faça sua parte, sem querer aparecer tolamente, sem pretender ter ou ser o que não é nem nunca foi ou tem e será, sem alardear o que está por vir e pode não vir, sem contestar a evidência do que é, sem matar a esperança da verdade que se mostra, por vezes, sem descer ao mais baixo ponto de vilania para haver, e principalmente, sem se esquecer que o todo é feito de partes. E principalmente, aceitar o que nos deu o destino e disseminar boa vontade.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/05/2020
Código do texto: T6960192
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