Uma comovente lembrança

Cristina Ribeiro, há tempos você escreveu no face:

" Dalma, você comentou após a aula, no Fundão (lá pelos anos 80), que o seu marido tinha um calo no pé que o levou a abrir um buraco no sapato. Seu relato foi tão afetuoso quanto engraçado que provocou em mim uma indecisão de reação. Então, optei por um breve suspiro de admiração. Nem sempre é possível mesclar o cotidiano com poesia como você fez. Sou muito grata à vida por ter proporcionado a mim essas doses de magia que tanto me fizeram bem. 😘

Prezada ex-aluna Cristina Ribeiro, suas lembranças me tocaram o coração. De fato, meu marido era um ser fantástico em todos os níveis. Despojado de aparências, fazia coisas similares sem se importar com o que pensassem dele. Era um filósofo que me encantava. Como você me encantou em recordar-me mais uma das "diferentes" passagens de Braz. Houve tantas assim. Minha amiga Eliana Bueno Ribeiro Vianna Santos sabe de algumas...

Vestia-se da maneira o mais simples possível. Eu,mais vaidosa, tentava melhorar-lhe a aparência. Médico, tendo obtido primeiro lugar no concurso para o Hospital dos Servidores, à época nível A da América do Sul, ele nada exibia de si. Ao furar o sapato e sair assim, era sua maneira de ser.

Certa feita, no aeroporto encontrei uma antiga colega da Aliança Francesa, filha de um general, já casada com famosa personalidade brasileira. Eu, em solteira convivera com ela. Nas vésperas das provas finais, ela mandava o motorista do pai levar-me a seu palacete para ensinar-lhe os pontos básicos. Sua vida era festas e mais festas.

Muitos anos se passaram. . Ela aguardava o marido vindo das altas esferas de Brasília. Meu marido e eu íamos visitar uma tia em São Paulo. Sestrosa e convencida, a colega contava-nos sua nababesca vida, viagens internacionais, seu luxuoso dia a dia. Braz, ao lado, só ouvia.

De repente, enojado com tanta exibição, ele deu de falar coisas de "sapantar'. Quanto mais ela se exibia, mais ele "figurava"ser um matuto, dizendo estar "louco pra comprar um carrinho "pra pode viajar ", quando tínhamos dois na garagem da casa no bairro nobre de São Francisco de Niterói.

Para escandalizar a "grãfinérrima" até deu uma "cusparada" no chão. Daquelas que vão longe. Filho de fazendeiro, conhecia os hábitos roceiros. Quanto mais eu, envergonhada ficava, mais ele curtia, a demonstrar que o importante é ver no "outro" humanitariamente "um irmão".

E é isso que tantos médicos e enfermeiros estão demonstrando na pandemia atual. Como ele fez após o incêndio do circo há décadas em Niterói.

Querida Cristina Ribeiro, sua lembrança me fez rebobinar o carretel do tempo, a ponto de eu escrever tanto aqui, mas apenas um "tiquinho" da pessoa extraordinária que foi meu marido. Amiga ex-aluna, obrigada, obrigadíssima por sua lembrança do que um dia contei da maneira de ser de Braz Nascimento. Beijos no seu coração, Cristina!