Um romance na madrugada


     1. Eu e as minhas insônias! Pode? Já era madrugada... e cadê o sono? Nem um bocejo... Com a ajuda do meu abajur, companheiro e confidente de repetidas noites sem conseguir dormir, entreguei-me à leitura de um bom livro sobre o qual depois eu falo. Aprendera que nada chama melhor o sono do que um bom livro.
     2. E foi assim. Para driblar os transtornos causados por mais uma insônia, mergulhei nas páginas de um romance, lindo caso de amor, envolvendo uma jovem mineira chamada Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão e um poeta lusitano chamado Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). Ela com 16 anos de idade e ele com quarenta.
     3. Dá para perceber que me refiro à bela Maria Dorotéia, a  Marília, e ao poeta Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu. Do amor entre os dois, nasceu o famoso poema "Marília de Dirceu", versos do vate português.
     4. O cenário do romance: a cidade mineira de Vila Rica, hoje, Ouro Preto. O livro: "A mais bela noiva de Vila Rica", do escritor maranhense Josué Montello (1917-2006). Um livro doce, no melhor estílo do autor de "Diário da Noite Iluminada".
     5. Aproveito para falar um pouquinho sobre Ouro Preto. Conheço essa bonita cidade. É uma das mais festejadas cidades históricas de Minas Gerais. As outras, para recordar, são: Tiradentes, Congonhas, São João Del Rei, Mariana e a romântica Diamantina, a terra do estadista Juscelino Kubitschek.
     6. Deixem eu dizer uma coisa. Andando pelas ruas enladeiradas de Ouro Preto, parecia ver, numa esquina qualquer, o poeta Dirceu; olhando pros seus casarões coloniais, parecia ver, numa de suas janelas, a doce Marília; ou os dois, juntinhos, se amando...
     7. Terra de belas igrejas. A que mais me encantou foi, sem dúvida, a de São Francisco de Assis. Mãos sagradas construíram o mais imponente templo seráfico das Alterosas: o arquiteto Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e o pintor Manuel da Costa Athaíde, o mestre Athaíde.
     8. O que alguns sabem e outros não, é que a igreja de São Francisco de Ouro Preto é uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa do Mundo. É, pois, para avaliá-la melhor, não ignorar esse título que lhe pertence. 
     9. E minha insônia se arrastava noite adentro. Os ponteiros do meu relógio de cabeceira, a passos lentos, aumentavam minha ansiedade. Quebrando o silêncio da madrugada, fiz novamente esta pergunta, agora, ao meu velho quebra-luz: mais uma noite sem dormir? Porquê?
     10. Foi aí que me lembrei do livro sobre o qual lhes falei, meu paciente leitor, minha dileta leitora. Ele estava ao alcance de minhas mãos; é um dos meus livros de cabeceira. Iniciei a leitura. E com as linhas do primeiro capítulo, veio o sono...
     Insônias? Até quando, Morfeu? Tem dó de mim, potestade...

Em tempo - Dirceu não casou com Marília. Dirceu morreu, preso, aos 65 anos na África, casado com outra. Marília morreu aos 85 anos de idade, esperando pela volta do seu grande amor. 

   
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 26/05/2020
Reeditado em 27/05/2020
Código do texto: T6959013
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