FILME: FAVELA DOS MEUS AMORES
ANTÔNIA MARZULLO EM FAVELA DOS MEUS AMORES
Convidada, em 1934, por Humberto Mauro, Antônia Marzullo interpreta tia Bilú no filme Favela dos meus amores, com Carmem Santos, Grande Otelo, Sílvio Caldas e Mesquitinha, entre outros. A cópia única do filme, infelizmente, acabou se perdendo para sempre num incêndio.
André Felippe Mauro, em seu livro “Humberto Mauro – o pai do cinema brasileiro”, publicado por IdéiasIdeais Design & Produção Ltda. e IMF Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1997, nos explica um pouco sobre a atmosfera daquele momento:
“Carmem Santos resolve produzir o primeiro longa-metragem da Vita Brasil Filmes – “Favela dos meus amores” – e chama Humberto Mauro para assumir a direção, roteiro e fotografia.
Provando que o mundo dá voltas, o autor do argumento de “Favela dos meus amores” é Henrique Pongetti (aquele crítico que chamou Humberto Mauro de “Freud de Cascadura”...). Humberto, conhecido por seu senso de humor elevado, acaba logo com as diferenças. Os dois tornam-se grandes amigos e realizam o filme, que será um dos primeiros filmes “neorrealistas” feitos no mundo. Aliás, bem antes dos italianos, considerados os “precursores do neo-realismo”: “Roma cidade aberta”, de Roberto Rosselini, rodado em 1945; “O ladrão de bicicleta”, de Vittorio de Sica, logo após a Segunda Grande Guerra.
Em 1934, quando começa a produção de “Favela dos meus amores”, os italianos fazem “Cipião, O Africano” e outros épicos do gênero, que nada têm a ver com o homem italiano ou a realidade do país.
A idéia de “Favela dos meus amores” é unir cenas reais filmadas na favela com ficção. O filme narra duas estórias, uma do amor de uma professorinha e de um rapaz da cidade que abre um cabaré na favela, e a outra é a estória de “Nhô-Nhô”, um sambista do morro, inspirada na vida de “Sinhô” – famoso sambista carioca.
A trilha sonora fica por conta de Ary Barroso. E no elenco, além de Carmem Santos, Rodolfo Meyer, Sílvio Caldas, Antônia Marzullo, entre outros.
As locações são o Morro da Providência e a Feira de Amostras, onde é feita uma favela cenográfica. E é lá em meio ao cenário que Ary Barroso instala seu piano e, sob a orientação de Humberto, compõe a trilha do filme que tem, entre outras músicas, a obra-prima “Inquietação”. As cenas filmadas no Morro da Providência contam com o apoio total da comunidade. Os moradores ficam amigos de Humberto, participam das cenas e até ajudam na produção”.
E continua André Felippe:
“Humberto está com 37 anos e muito inspirado. Estreia “Favela dos meus amores”, que é considerado por muitos como o seu melhor trabalho. A cena do enterro de “Nhô-Nhô” revoluciona a forma de filmar, com pontos de vista e ângulos ainda pouco explorados. Além do ritmo emocional imposto à cena, o morro inteiro chora a morte de “Nhô-Nhô”... e o público também! O filme é um sucesso arrebatador de público e crítica. Entre as críticas publicadas, uma merece especial destaque, não só pela forma perfeita com que analisa, mas também por quem a assina: Jorge Amado.
Em 1935, Antónia é cedida, com papel passado, para estrelar na Cia. da Casa do Caboclo, que ocupava o Teatro Fênix, onde ficou até o ano de 1936; também naquele ano, assina contrato com o empresário teatral Renato Viana.
“Com a apresentação de “Canário”, a hilariante comédia de dupla José Vanderlei-Mário Lago, Palmerim e sua companhia de comédias, nos oferecem a Segunda récita desta temporada.
De modo geral o espetáculo esteve muito bom. Seus intérpretes deram muita vida e naturalidade aos papéis que lhe foram confiados. Palmerim, mais uma vez, demonstrou ser aquele cômico cheio de recursos, inteligente, e possuidor de uma inflexão de voz que o faz tirar partido das “piadas” em abundância nesse gênero de teatro leve, como é a comédia “Canário”.
Antônia Marzullo com aquela sobriedade que lhe é peculiar, portou-se em Brígida, galantemente. Néa Amara, que ontem teve oportunidade de demonstrar o quanto possui de graça e interpretação, o fez com muito brilho.
Jorge Dinis, um tanto deslocado, pois teve a seu cargo a interpretação de um galã, que se presume jovem, emprestou ao personagem Osvaldo, com linha e sem exageros, o que não é comum se ver por aí, quando um ator central remonta num papel de galã, com a consciência de sua responsabilidade artística, muita sobriedade. Ceci Medina nos mostrou qualidades particularizadas para interpretar uma dama central. Muito bem, também, estiveram num mesmo plano, Ferreira Leite e Verônica Daise. Bom guarda roupa e ótima montagem”.
O texto acima, publicado neste livro, era de um recorte da família e não vem com o nome do jornal e a data. Faz parte da Biografia de Antônia Marzullo que vem sendo escrita por mim.
NMT.