Aguardando o melhor título
Existem textos para os quais não se tem título, nada capaz de sugerir o que o autor pretendeu dizer com aquela narrativa, mas sobram títulos para outros textos, uma gama de menções que nos remetem a aquilo que pretendemos narrar.
Memória Curta; Fotos Ovais; A vida é ingrata; Saudade tem Prazo de Validade; Paredes Descascadas, e mais dez ou doze se diligenciássemos com apuro.
A cena é frequente em casas de avós, onde velhos quadros ovais, significativos, para os pais dos nossos pais:
-Aquele é o tio Eurico, contador de causos, que prendia a atenção de toda a família após o jantar... contava velhas brigas, assombrações e grandes fortunas dilapidadas por antigos milionários da cidade;
-A vó Filomena, que tinha na memória, a melhor receita de pastel, uma delícia, que ela preparava todos os sábados à tarde;
-A foto do bonitão, ao centro, era um mistério, ninguém explicava a razão de ele ocupar um lugar na galeria de fotos daquela parede. Eu sempre acreditei que motivação escusa o colocava entre os registros familiares.
O tempo passava e, poeticamente, as fotos envelheciam, ficando, a cada dia, mais amarelecidas pelo tempo, e o rosário de história, sobre cada foto, também se esvaecia. O bonitão deixou de ser a única dúvida nas lembranças, também ninguém conseguia ligar o parentesco do tio Eurico na árvore genealógica da família, e o pastel, era mesmo obra da vó Filomena?
Quando a sala foi pintada pela primeira vez, algumas fotos saíram do mosaico, que era aquela parede, ficando apenas os afins mais próximos; na segunda pintura, saíram de cena aqueles de quem ninguém mais se lembrava do nome, e a terceira pintura foi a pá de cal... paredes nuas, velhas fotos viraram quinquilharias e foram para a despensa, até que alguém resolva pintar, também, a despensa