O tecido do imaginário infantil
Eu era menina e gostava muito quando mamãe avisava que íamos "á cidade". Depois de muitos anos fui compreender que a cidade, na verdade, era o centro da cidade. Morávamos próximos e íamos á pé, mas o costume da gente que morava afastada, talvez em subúrbios, ficou gravada na ideia e refletia no linguajar popular.
Íamos comprar tecidos para levar às costureiras, tão comum na minha infância.
Eram os panos, chamados de fazendas e ficavam nas lojas, enrolados em peças enormes que o vendedor rodopiava com destreza no balcão de madeira, para cortar a medida solicitada pela freguesa, sempre conferida num metro de madeira pintada de amarelo, diga-se de passagem.
Ficava pensando nas fazendas... Eu sabia que nas propriedades rurais havia gado, porcos, pés de fruta, mas não conseguia ver uma relação com aquelas casas repletas de bancas de tecidos ou enormes prateleiras com as tais peças empilhadas.
Após os cortes, vinha a desenhista quase sempre sorridente. Ela nos conduzia a um cantinho onde tinha uma mesa com duas cadeiras. Mamãe se sentava e ela do outro lado punha-se a desenhar com rapidez, belos modelos de vestidos com cortes, palas, pences e machos... Machos? Que teriam os animais masculinos ou até mesmo os homens com aquele universo tão feminino? Eu olhava aquilo tudo com grande curiosidade. Perguntava furtivamente à minha progenitora que me olhava de um jeito que eu entendia o recado para não interromper o momento da artista com seus modelitos coloridos em tons pastéis. Então eu caminhava por ali, olhando as estampas tão variadas, quase sempre floridas... tocava os veludos tão macios ou os cetins delicados. Meus olhos perscrutavam aquele ambiente com sagacidade, e quando eu achava as flanelas coloridas, os tecidos para roupas infantis, eu me deliciava com as muitas frutinhas, passarinhos e bichinhos de todo tipo, inclusive os boizinhos, porcos e pintinhos; todos os animais machos das tais fazendas e então tudo parecia fazer sentido para mim.
Eu era menina e gostava muito quando mamãe avisava que íamos "á cidade". Depois de muitos anos fui compreender que a cidade, na verdade, era o centro da cidade. Morávamos próximos e íamos á pé, mas o costume da gente que morava afastada, talvez em subúrbios, ficou gravada na ideia e refletia no linguajar popular.
Íamos comprar tecidos para levar às costureiras, tão comum na minha infância.
Eram os panos, chamados de fazendas e ficavam nas lojas, enrolados em peças enormes que o vendedor rodopiava com destreza no balcão de madeira, para cortar a medida solicitada pela freguesa, sempre conferida num metro de madeira pintada de amarelo, diga-se de passagem.
Ficava pensando nas fazendas... Eu sabia que nas propriedades rurais havia gado, porcos, pés de fruta, mas não conseguia ver uma relação com aquelas casas repletas de bancas de tecidos ou enormes prateleiras com as tais peças empilhadas.
Após os cortes, vinha a desenhista quase sempre sorridente. Ela nos conduzia a um cantinho onde tinha uma mesa com duas cadeiras. Mamãe se sentava e ela do outro lado punha-se a desenhar com rapidez, belos modelos de vestidos com cortes, palas, pences e machos... Machos? Que teriam os animais masculinos ou até mesmo os homens com aquele universo tão feminino? Eu olhava aquilo tudo com grande curiosidade. Perguntava furtivamente à minha progenitora que me olhava de um jeito que eu entendia o recado para não interromper o momento da artista com seus modelitos coloridos em tons pastéis. Então eu caminhava por ali, olhando as estampas tão variadas, quase sempre floridas... tocava os veludos tão macios ou os cetins delicados. Meus olhos perscrutavam aquele ambiente com sagacidade, e quando eu achava as flanelas coloridas, os tecidos para roupas infantis, eu me deliciava com as muitas frutinhas, passarinhos e bichinhos de todo tipo, inclusive os boizinhos, porcos e pintinhos; todos os animais machos das tais fazendas e então tudo parecia fazer sentido para mim.