UMA FAMÍLIA NO TEATRO

O RIO CORREU PARA O MAR

Nelson Marzullo Tangerini

Em 1929, Nestor Tangerini apresenta, pela Empresa fluminense Oscar Mangeon, sua segunda peça [a primeira revista] Bonde Errado -, no palco do Cine-Teatro Eden, de Niterói.

Mangeon, igualmente boêmio [poucas informações temos a seu respeito], era um dos “parisienses”, e era amigo e admirador de Nestor Tangerini, bem como dos demais poetas da Roda do Café Paris. Ambos eram paulistas, porém com o fluminensismo na alma.

Eis alguns quadros e a relação dos atores, segundo o autor:

“Na outra encarnação – Colônia, escritor – Henrique Bastos; Jardim, contínuo – Carlos Barbosa; Cigana – Antônia Marzullo. Bancando o homem – Libório, marido – Carlos Galvão; Ingrácia, mulher - (o teatrólogo não se lembrava do ator); Lígia, filha – Maria Martins; Vivaldino, genro – Raul Gonçalves. Elegâncias – Petronilho – Carlos Barbosa; Valentino – Henrique Bastos; Dona Boa – Maria Martins; Guarda – contra-regra. No túnel – Ele – Raul Gonçalves; Ela – Maria Martins; Criôlo – comparsa. Ladrão por amor – Lìdia – Antônia Marzullo; Haroldo – Ildefonso Norat; Detetive – Cardoso Galvão. Agora é tarde – 42, o cabo – Carlos Barbosa; 48, soldado raso – Cardoso Galvão; Queixoso – Henrique Bastos. Imaginem – Assaltante – Henrique Bastos; Dona Boa – Maria Martins. Confessando – Padre – Carlos Galvão; Inocêncio – Carlos Barbosa. Um drama – Laura, jovem – Antônia Marzullo; Orlando, amante de Laura – Carlos Barbosa; Hoteleiro – Cardoso Galvão. Salve a lua! – Ele – Ildefonso Norat; Ela – Maria Martins. O mar também tem mulher – Orlando – Henrique Bastos; Laura – Antônia Marzullo. Parque dos amores – Jardim, contínuo – Carlos Barbosa; Taborda, português – Henrique Bastos; Helena – Antônia Marzullo; Jardineiro – contrarregra.”

Como o leitor pode ver, uma das estrelas da peça era Antônia Marzullo, que se tornaria, futuramente, sogra de Nestor Tangerini.

O rio correu para o mar: em 1937, quase dez anos mais tarde, já morando no Rio, então Capital Federal, Tangerini conhece a atriz Dinah Marzullo, com quem se casaria. Filha da atriz Antônia Marzullo e irmã da atriz Dinorah Marzullo, Dinah trabalhava na Companhia Teatral de Alda Garrido, ao lado da mãe e da irmã. Os dois se conheceram nesse momento, no Teatro Carlos Gomes, quando Tangerini a viu no palco e por ela se apaixonou. Foi a atriz Alda Garrido quem levou Antônia para o teatro, em 1922. As duas tornaram-se amigas desde o momento em que trabalharam juntas numa camisaria.

Primeiro, Tangerini, desenhando em crayon, copia uma foto da atriz. E envia seu trabalho para ela, com o seguinte autógrafo: “À atriz Dinah Marzullo, com a minha admiração de artista”. Acompanha a sua obra uma caixa de bombons.

Dali para diante, mais caixas de bombons acompanhadas de poesia como no acróstico e na trova publicados abaixo:

“ACRÓSTICO PARA DINAH

Deus, artista, em teu louvor,

Imaginou, satisfeito,

No teu vulto, obra primor,

Assim fazendo um perfeito

Hino de sonho e de amor”.

e

“A vida já quis perde-la,

E hoje a quero prolongar;

Encontrei a minha estrela

Na noite do teu olhar”.

Certa vez, antes de um show de Caetano Veloso, no Teatro Carlos Gomes, do Rio, minha mãe, que me acompanhava em shows e peças de teatro, virou-se para mim e disse, com orgulho:

“- Estive naquele palco, quando fui atriz da Companhia Teatral Alda Garrido. Foi aqui que conheci seu pai”.

Vi uma lágrima correr dos seus olhos e senti que fazia parte, também, daquela história.

Em 2010, no aniversário de minha tia, a atriz Dinorah Marzullo Pêra, disse para minha prima Marília Pêra que nós existíamos graças ao teatro brasileiro. Dinorah também conheceu seu marido, o grande ator Manoel Pêra, no teatro. Casaram-se. E do casal vieram as atrizes Marília e Sandra Pêra, que levariam adiante a paixão de Antônia Marzullo e Pêra pela ribalta.

O Acróstico para Dinah só foi publicado em meu livro “Perfil Quase Perdido - Uma Biografia para Nestor Tangerini” [inédito], registrado em 2000, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e no livro Dona Felicidade, publicado em 2017 pela Editora Autografia, da atual capital fluminense.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 23/05/2020
Reeditado em 23/05/2020
Código do texto: T6956345
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