Lá debaixo daquela árvore

16 de março de 2020

A partir do dia 17 de março de 2020 todas as escolas do Estado estarão fechadas devido a pandemia do COVID-19.

Acabou a aula, despediu dos alunos e saiu como de costume. No dia 17 acordou o mesmo horário foi correr, preencheu os dias com afazeres domésticos. Enquanto isto uma " enxurrada " de notícias pela televisão. A pandemia chegou no Brasil, atravessou fronteiras, devastou a Itália, e chegou no E.U.A fazendo vitimas fatais. Enquanto isto ele observava tudo de muito longe ou seja sem noticiários, mas " mensagens atras de mensagens " em uma rede social de seu celular. Durante quase um mês manteve a rotina " quase normal ". No entanto começou o " SPA ". Bom isto é a abreviação ou seja a sigla ( Síndrome do Pensamento Acelerado ). Nesta altura do campeonato " um mês " parado já havia rachado o pilar da Educação. Ficou " matutando " o que poderia fazer para que os alunos ( as ) não fossem prejudicados. No dia 13 de abril algumas atividades paralelas, engrenou a marcha com os pais e então começou a rodar. Nada de novidade para eles e muito menos para os seus alunos que já estavam acostumados com o " ritmo " desenfreado do professor. Os noticiários " rolando " e ele deslanchando por ai. Bom, se as atividades remotas é uma utopia elas estão ai. Quem tem internet faz videos-aulas, abaixo aplicativo, entra no chat para pedir explicações para os professores. É uma bateria " igual as cataratas " de Foz do Iguaçu. Tudo bem dinâmico. Basta um click. Basta um aplicativo bom e esta resolvido. Qual o posicionamento dos governadores dos Estados? - FICA EM CASA. Fecha comércios, microempreendedores já de cabeça quente, o presidente diz:- Vamos trabalhar. Os governantes fazem " motim", o povo nas ruas, auxilio emergencial. Enquanto isto ele " aproveitando para ensinar ". Por telefone 50 minutos. Pela rede social, seleciona cola, coloca seta, envia, recebe, acorda, dorme, e os alunos enviando atividades realizadas. Ele elaborando mais um plano. Está dando certo, graças a Deus. Pensa com cautela. Mas de repente nada. Não consegue comunicação com o aluno que mora no meio do mato, onde passa um rio, onde tem um morro, algumas árvores, poeira na estrada, pedras salientes, céu azul, sol intenso, vento no rosto. Gorro na cabeça. Vai atrás do seu aluno. Pega a estrada de terra, vai, passa boi passa boiada, passa casas, passa matos, sábias cantarolando, árvores do lado direito e do lado esquerdo. Observa a pedra filosofal, um vale lá embaixo, a máscara colado no rosto deixa a respiração ofegante. Coração apertado no peito. Saudades? Ansiedade? Verdade absoluta. O Brasil chorando os mortos a população assustada. Lá a frente depois de quase uma hora avista a porteira toda descascadas com um azul pra lá de desbotado. Para o carro. Desliga o motor. Sente a brisa no rosto. O cheiro do campo. Bate palmas timidamente. Nada. Bate mais palmas. Vai adentrando ao longe escuta a voz de um locutor de rádio: - são 11:05 minutos solta o locutor. Chama pelo nome. Aparece uma mulher. Era a mãe do aluno. Com um meio sorriso nos lábios. Semblante de cansada. O professor pergunta por ele. Ela responde que ele esta em pânico achando que vai contrair a doença. O professor então pede para a mãe chamar o menino. Ele aparece lá na porta meio ressabiado olhando de longe, não vem. A mãe chama outra vez. O professor interpela. Na terceira tentativa ele vem caminhando devagar. O professor olha para o menino da um sorriso. Ele todo tímido também mostra um sorriso meio duvidoso de canto de boca, pensando na vida. Naquele momento. A mãe diz que ele teve dificuldades para fazer as atividades. La não tem rede, celular não tem sinal. O professor diz: - pega a atividade. Ele vai pegar, desta vez volta rápido. O professor retira um lápis velho da bolsa e uma borracha meio gastada. Vamos fazer? O aluno sacode a cabeça em sinal de positivo, parece seguro. É uma atividade de multiplicação. O professor pergunta: - 4 X 1? O aluno responde sem titubear: 4. E todas as perguntas seguidas vem positivamente. O menino conta nos dedos. O professor convida para sentar ali debaixo daquela árvore. Os galhos balançando uma sombra gostosa. E aos poucos vão realizando as atividades ele com o olhar fixo no professor quando o professor está explicando. Lá no meio do mato. Erra o número. Apaga. A borracha cai da sua mão, mistura com a terra. Vai fazendo, vai passando, aluno e professor em uma sincronia maravilhosa. Sem rede sociais, olhos nos olhos, perto do outro o professor com a máscara colada na boca. Enfim terminam. O professor pede para conferir. O aluno está ansioso. Confere questão por questão está tudo certo. O professor da mais uma explicação. O aluno capta. Fica alegre. Está mais solto. Está mais falante. Está mais confiante. Então é a hora da despedida. Sem rodeios: sem aperto de mãos, sem abraços... apenas um aceno. A mãe satisfeita. O professor irradiante. Pensa naqueles que estão sobre a sua responsabilidade. Vê esperança, onde algumas pessoas deixam passar despercebidas, consegue encontrar uma agulha num palheiro. Pode contar no dedo " quem está na linha de frente ". Bom ai já não depende deles. O professor vai caminhando, vai correndo, vai arrastando, vai suando, vai no frio, vai na chuva, vai no Sol, ensina de manhã, ensina a trade e ensina a noite. Acorda pelas madrugadas... o dia vai raiando...meu povo. Brasil. Verde,amarelo,azul e branco. O professor vai fazendo a sua parte. Remando contra a mare não perdendo aquilo que ele tem de mais precioso: - sua fé. Observação: Um professor me contou esta história e resolvi produzir. Qualquer semelhança com acontecimentos, lugares, pessoas terá sido mera coincidência.

LUVI
Enviado por LUVI em 23/05/2020
Código do texto: T6956206
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