UM POUCO DE JAPÃO - PARTE VII (cont.)
Japoneses reunidos, peça no palco, "Sobreviventes de Hiroshima". --- A bomba atômica explodiu em 6 de agosto de 1945 e TAKASHI MORITA (95 anos na data deste artigo) marchava com um pelotão formado por 3 soldados - lance repentino, um clarão rasgou as ruas da cidade japonesa e ele foi arremessado a distância de 10 metros. Depois que levantou, viu prédios de concreto explodirem imediatamente, um bonde todo queimado e muitos corpos amontoados. --- Ao lado, KUNIHIKO BUNKOHARA. 79, e JUNKO WATANABE, 76, japonesas, que também resistiram ao ataque nuclear durante a II GM. --- Sentados em cadeiras perfiladas equilibram com auxílio de projeções e de fatos algumas memórias pessoais; em determinado momento, cantam e dançam ao som de as taikôs (tambores típicos do Japão) tocados por uma banda sobre o tablado. --- Inédito no Rio, o espetáculo reconta e repensa parte de uma data incontornável na História mundial, raros recursos ficcionais breves, em real cerca de 140 mil mortos. --- Exemplar o caso de Morita, diagnóstico três anos depois com leucemia, consequência da radiação, e trocou o país com mulher e filhos pelo Brasil, terra "abençoada", ouviu de um amigo. --- A ideia é apresentar a História sob um ponto de vista humano - o dia a dia e as relações cotidianas das pessoas atingidas pela guerra, antes e depois da bomba. A plateia se emociona ao se colocar do lado do outro, o trio perce essa troca desde 2010 viajando por 45 países, em conferências sobre a cultura de paz em todo o mundo; na Associação Hibakusha, formada por 77 sobreviventes que migraram para cá, únicos que demonstram abertura para isso. --- Junko teve doenças no intestino e reforça dramas irreparáveis que devem ser divididos com o máximo de pessoas que lembram e não falam - só em 1981 descobriu ser uma sobrevivente - em discurso na ONU, foi interrompida por um ex-soldado americano que só aos prantos conseguiu pedir perdão; aos 5 anos na época da tragédia jamais conseguiu achar os corpos da mãe e da irmã; o pai a salvou porque o pai, por acaso, a levara ao escritório onde trabalhava. Aos 20 anos, recebeu diagnóstico de grave problema cardíaco, viajou para o Brasil com US$ 30 no bolso, sem imaginar que poderia repassar sua própria trajetória quase sessenta décadas depois.
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FONTE:
"Relatos de quem sobreviveu o horror atômico", artigo de Gustavo Cunha - Rio, jornal O Globo, 2/11/19.
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