Incoerências da Madrugada

Confusa, traumática, talvez dramática. Sou eu um bálsamo de incoerências. Busco não sei o quê, vivo em encruzilhadas sendo consumida pelas dúvidas inerentes aos seres que se importam mais do que deviam.

Seria absurdo supor autodesconhecimento? Seria ingênuo me submeter a reflexões supérfluas? Seria estranho assumir a minha despadronização? Quem sabe? Provavelmente ninguém.

Sinto que minha sensibilidade ultrapassa o limite. Sinto demais. Penso demais. Desejo demais. Seria erro não assentir a solidão? Seria erro ansiar por alguém que entenda a minha poesia corpórea e de alma? Creio que erro maior seria me conformar com as sobras de quem poderia me oferecer banquetes.

Enquanto escrevo nesta noite quente de abril observo a minha descrença atual em cada resquício que existe em mim. Duvido de minhas crenças religiosas, da existência do tempo, de minha orientação, de meus valores, de meus amores, do meu próprio ser. Procuro a quem culpar por minha perdição e desorientação, mas tudo está tão entrelaçado que me faz crer que o próprio existir adoece a existência.

Ah, como gostaria de expandir minha dor por meio de uma arte qualquer, ser útil numa realidade vazia e ignorante. Odeio a mim sem extravasar e sinto minhas entranhas se retraírem e causarem uma dor invisível, sem cura aparente.

Na chamada contemporaneidade somos preenchidos do que não é essencial: sexo é necessidade física, beijos são técnicos, o amor é retrógrado, imbuir-se de informações que agregam valores é desnecessário, a ciência é desacreditada, as religiões disputam a verdade absoluta de seu Deus, a pobreza é escolha e preguiça... Nomearam o tempo de forma incorreta, ou existo no tempo inapropriado.

Visto inverdades, leitor. Respiro palavras não ditas e sentimentos não expressados. Ah! O dom de sentir demais, pensar demais e desejar demais. Concluo que o amor e a razão são similares, ambos covardes! Covardes! Será que sou a única sofredora das incoerências que causam a madrugada?

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 23/05/2020
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