VIAGEM NO TEMPO PELO RIO ANTIGO - PARTE II
1---A jornalista Patrícia Pamplona especializou-se nos registros raros de lugares que não existem mais, e numa foto indexada no Museu de Imagem e do Som com o termo genérico de "restaurante" ela identificou o interior do restaurante do Palácio Mourisco, 1907, e num acervo particular cenas da pitoresca cultura das touradas em Santo Cristo, 1910. Faz parte de um grupo de pesquisadores informais que busca peças no quebra-cabeças carioca, num olhar saudosista - são rastros escondidos em rolos de negativos e vendidos em feiras de rua, fotos inéditas sem interesse para as pessoas que "correm" no dia a dia. Por exemplo, o hipódromo Prado Guarany, entre os bairros de São Cristóvão e Santo Cristo, palco de corridas de cavalo e touradas, foto de 1910. --- O músico e jornalista Rafael Cosme busca material, descobertas deliciosas, também nas feiras de rua, slides Kodachrome, achados que incluem fotos de um grupo de amigos subindo o Morro da Babilônia, 1958, passeios de carro pela ainda deserta Barra da Tijuca, anos 60, a chegada do turfe ao Arpoador, festas em apês no tempo da bossa nova... Para ele. "o Rio é uma cidade com pouco registro visual da vida comum; tivemos grandes fotógrafos no século XIX e início do XX, muitas fotos guardadas em coleções familiares, fotógrafos de fim de semana, e meu papel e procurá-las. Pouco se sabe sobre a origem das fotos e numa série de fotografias publicada de um grupo de amigos no reveillon de 1977 em Copacabana, terraço de um apartamento e fim da praia ao amanhecer, a filha de uma das personagens reconheceu a mãe; emocionante porque identificamos a maior parte dos convidados. O que ele chama de "redes sociais do passado": o acervo de periódicos da Biblioteca Nacional, base para um livro com sugestões de programas por bares, restaurantes, boites e botiques hoje inexistentes, recuperados personagens e casos pitorescos em propagandas, notícias e crônicas publicadas em jornais antigos - epidemias da malária, bonde sempre enguiçado... Povo sempre atento às gírias, bordões e modismos que surgiam - abrir o chambre - correr, fugir; almoço de assovio - café e pão; amarrar a lata - acabar namoro; bife de chaleira - café; dança de rato - confusão; mostrar a força dos pastéis - a verdadeira personalidade; rosca quebrada - conversa fiada.
2---Surgiu uma recente publicação lançada pelo ARQUIVO NACIONAL com imagens de quase um século da história da cidade. --- Avenida Rio Branco, uma das mais movimentadas desde o início do século XX, se chamava Avenida Central, tempo dos lampadários em estilo art nouveau, iluminação luxuosa eternizada numa foto de 1906, propaganda para o projeto modernizador da capital, desejada pelo prefeito Pereira Passos. ideia de transformar o Rio em uma Paris tropical. Doze imagens raras pinçadas de um gigantesco e muito rico acervo da instituição, registro que cobre desde uma foto de 1890, entrada da Baía de Guanabara, vista de Santa Teresa, até um retrato de 1970, encosta do Morro da Mangueira dominada por barracos de madeira. --- Cada imagem traz uma legenda que explica´o contexto do registro ou aspectos arquitetônicos e urbanísticos na época. --- Túnel do tempo, Copacabana sem prédios. --- Ícone do modernismo, o Edifício Gustavo Capanema, por exemplo, ilustra o mês de julho - construído entre 1937 e 1944, projeto idealizado por uma equipe de liderada pelo arquiteto Lúcio Costa, com a consultoria do arquiteto Le Corbusier; ganhou jardins de Burle Marx e painéis de Cândido Portinari. --- Entre as imagens históricas, se destacam, pelo modo como foram feitas, duas estereoscópias - populares no início do século XX, registros com duas fotografias, lado a lado, captadas com pequena diferença de ângulo: vistas através de um aparelho, se mesclam em uma única imagem 3 D.
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FONTE:
"A cada mês, uma viagem ao passado do Rio nas folhas do calendário" -- "Caçadores do Rio Perdido" --- Rio, jornal O GLOBO, 29/2 e 1/3/20.
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