E agora?
E agora?
Tudo que era sólido, parecia sólido, se desmancha no ar.
Acordamos e ainda é ontem, e o amanhã é o susto, a vertigem das incertezas.
Como a criança cujo brinquedo quebrou estamos perdidos sem ter com o quê brincar.
De repente todos os nossos modelos ficaram anacrônicos. Modelos de sociedade, de política, de economia, de educação, de saúde pública. Modelos de vida, enfim. Já não conseguimos vestir nos elegantes manequins que pensamos para nós. Tudo está sob suspeita. Todos os modelos, todos os sistemas. Todo o alegre mundo que imaginávamos ser assim para sempre, agora não serve mais. Tudo precisa ser repensado. Nosso modo de vida parece definitivamente ultrapassado, condenado. O mundo de fantasia que havíamos construído e que até ontem parecia o mundo possível, não atende mais nossas necessidades. Nem as mais simples. Estamos encrencados. E estamos órfãos.
Os valores que acreditamos que seriam eternos se dissolveram num sopro, num passe de mágica.
Onde está o chão? Perdemos nossas referências. E, no entanto, lá fora o céu parece mais limpo e mais azul. As flores e os pássaros parecem mais vivos. As nuvens mais nítidas, mas nossos sonhos estão destruídos.
Ruas e praças ermas e tristes. Um ar de doentia preguiça acumula poeira nas coisas e nas pessoas.
As igrejas estão vazias de fieis. Já estavam vazias, ocas de Deus há muito tempo, transformadas em casas bancárias meramente arrecadadoras e cujo único culto reconhecido é o do Dinheiro.
De que servirá esse falso Deus se deixarmos de existir? Se nos extinguirmos como humanidade?
Somos agora a criança cujo brinquedo quebrou e as outras crianças se foram e nos deixaram sós. Nosso mundinho de fantasia está todo estropiado e não sabemos com quem e nem com o quê brincar.
Andamos muito tempo agredindo a natureza, desmatando, violentando o clima, envenenando as plantas, a água, o ar. Dizimando animais, aves, peixes. Exterminando gente pela desigualdade, pela desnutrição, pela fome.
Arruinamos o equilíbrio ecológico do planeta em que vivemos.
Somos o animal apanhado na armadilha que ele próprio construiu.