Eram moinhos de vento
A primeira vez que pensei em ser escritora, foi quando ainda era uma menina. Veio da vontade de registrar as histórias que meu pai contava. Eram histórias variadas que misturavam fantasia e realidade. Ainda consigo me lembrar das canções sertanejas que ele cantava e também das que ele inventava em que sempre aparecia meu nome e dos meus irmãos.
Cada vez que ele começava seus causos, as crianças se aglomeravam ao redor para ouvir, e logo o silêncio era quebrado com risos e perguntas das quais ele sempre se esquivava com mais argumentos que um advogado estudado.
Entre as minhas preferidas estão a do Duende Leozinho, a menina do cabelo de ouro e outra em que a garota entrava num foguete e tinha que comer larvas. Não me recordo bem da história, mas de como gostava de ouvi-la.
Primeiro escrevi o Duende Leozinho, repleto de “dais”, e de erros de português afinal, era assim que meu pai falava. Resultado: todo mundo caçoando de mim. Meu pai não. Ele disse que eu seria escritora.
Anos mais tarde, na escola era a aluna que mais escrevia e olha que eu criava histórias bastante fantásticas, mas tinha algo que me incomodava: escrever pouco. Aquela delimitação de linhas nunca combinou comigo. O que queria dizer era sempre mais do que a folha comportava.
Fui crescendo e aos poucos as peripécias das histórias do meu pai começavam soar cada vez mais quixotescas. Ele era apenas um ser humano cheio de defeitos, como qualquer outro. Hoje com olhos de adulta consigo enxergar que tudo não passava de uma forma de enfrentar a realidade. Sim, enfrentar. Pintando nela alguns detalhes a mais, algumas vitórias a mais...
Quando o ouço contar suas vantagens e a cantarolar suas canções, sinto um profundo pesar por ter deixado de acreditar nessas fantasias, por ter abandonado meu sonho, por não ter aprendido esse dom de ser uma legítima contadora de histórias.