Contagem Regressiva

[2019]

Na quase véspera dos meus 26 anos questiono-me desesperada se envelhecer é realmente bom. A minha insegurança cresce quando paro para pensar se falta muito para atingir os meus objetivos e me tornar alguém melhor. Inicialmente me questionava se um dia eu iria conseguir morar sozinha e quando menos esperei – estava eu comprando panelas, roupas de cama, produtos de limpeza e fazendo compra, ainda me arrisquei em mudar para outra cidade. A vida tem dessas coisas, nos surpreender.

De um passado distante surge uma nova história, quando mais nova sonhava servir as pessoas e hoje faço isso de uma forma voluntária em uma associação que ajuda a humanidade. Quando você envelhece, nunca sabe se vai servir para alguma coisa e de qual desgraça possa ter sido poupada.

Hoje comecei a observar as pessoas que sigo nas redes sociais e alguns parecem muito satisfeitos com a vida que levam, outros parecem insatisfeitos por não terem alcançado os bens materiais que tanto queriam, naturalmente somos condenados a uma vida de comparação e escravizados pelo mundo capitalista. Fugir disso é como entrar em um labirinto sem fim.

Levemente desamparada pela minha falta de fluidez, não pude contribuir com tamanha maturidade para resolver relacionamentos amorosos. Enquanto tudo corre bem, os acontecimentos da vida são lógicos. Mas quando sou atingida pela minha falta de controle, começo a refletir sobre a minha não insistência em fazer dar certo. Será que envelhecer nos torna medrosos e resistentes?

Viajo ao encontro de uma trajetória de mudanças e logo lá fora não vejo praticamente mais nada que seja capaz de me fazer desacreditar em alguma coisa. A estrada me levou a aprender com os meus erros e pequenos progressos.

O tempo não passou nada devagar, mas aos 26 anos posso afirmar que a fase das paixões, dos encontros cheios de ansiedade e de um coração receptivo ao outro vem diminuindo com uma frequência avassaladora. É notório a perda da sede de novidades – você começa a ficar um pouco crítica quando o assunto é envolvimento. Aquela festança de beijos que você dava dos 18 aos 20 anos hoje em dia não passa de uma mera situação do passado, você não quer mais quantidade e sim qualidade. Vamos vivendo as dores e as delícias que fazem parte dessa fase.

De uns anos para cá percebi o quanto é bom ir para a casa dos meus pais e abraçá-los, preparar um bolo, tomar um café bem quente, ser produtiva no trabalho, correr, comer um chocolate, fazer sexo e ter a sensação que a vida, em qualquer idade, pode ser rica e interessante. Nosso querido e simpático tempo tem o poder de mostrar acontecimentos extraordinários e a partir disso tiramos as nossas próprias conclusões.

O que tenho em mente é um cruzeiro ensolarado, um romance a bordo de um navio, uma aventura sem culpa. Ainda não é tempo de pensar como será o futuro, nem se alguém vai me visitar no asilo, muito menos se vou conseguir me aposentar. Agora tento não pensar nessas coisas e só me enrijecer naquele instante de viver a vida que eu ainda tenho a preciosidade de viver.

H Hevilyn
Enviado por H Hevilyn em 19/05/2020
Código do texto: T6952518
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