Entre sextas e domingos, talvez, o sábado
Os sábados são indiscutivelmente os melhores dias da semana, ainda mais se amanhecem com os raios de sol levemente queimando sua pele, aquele calor que traz uma sensação de conforto, assim como hoje. Muitos diriam que esperam a semana toda para sexta, mas nunca entendi o real motivo. Sexta ainda é um dia de obrigações para a maioria de nós: levantamos e seguimos a mesma rotina da segunda, só que ainda mais cansados. Eu juro que por muito tempo tentei ter essa energia de sair, encontrar os amigos, conversar em plena sexta-feira, admiro aqueles que conseguem. Não é pra mim. Na verdade, sábados como esse me fazem lembrar as minhas antigas sextas. As aulas de história política durante a tarde eram intermináveis e sonolentas, minha ansiedade em sair de São Paulo e voltar para a casa não permitia que o tempo passasse. Eu precisava sair sempre dez minutos antes do professor nos liberar, caso contrário, perderia o ônibus das dezessete horas e o próximo sairia somente às dezoito. Às dezenove horas eu estava em casa, tomava um banho e te esperava na sala, mas eu estava sempre tão cansada, o metrô era sempre lotado e eu passava pelas linhas amarela, verde e azul, pensando em te ver. Essas eram minhas sextas. Você não demorava para chegar, mas também não tardava a ir embora. Era um beijo, um oi e uma curta conversa. Talvez estávamos cansados pela semana ou cansado de nós, mas o dia seguinte chegaria e passaríamos a tarde juntos, a noite pensaríamos onde iríamos comer, se a grana estivesse muito curta, jantar em casa seria a melhor opção. Não importava, era sábado, o melhor dia da semana, estaríamos juntos. Sextas não me trazem boas recordações: que tolice foi ter escolhido história política como optativa, era dia de festa em sua casa e eu não poderia me atrasar, afinal, se eu perdesse o ônibus das dezessete horas só conseguiria embarcar no das dezoito, o que significaria que ficaria presa no trânsito ao descer a serra. Eu disse a você que não atrasaria. Eu me atrasei, peguei o ônibus das dezoito horas. Era vinte horas e trinta minutos e eu simplesmente não tinha mais internet no celular, você disse que me buscaria, preferi pedir para que o motorista me deixasse um pouco antes da rodoviária, ficaria mais perto da sua casa e eu não queria te incomodar. Quando cheguei, você já não era você. Senti o cheiro da bebida de longe quando tentou me beijar, disse, aos tropeços, que me amava mais do que qualquer outra coisa, trinta minutos depois, agiu de forma violenta. Você foi duro com as palavras. Aquilo me fez sentar no sofá e observar toda a cena que faria frente aos seus familiares, fui embora sem me despedir, não deixaram, você chamava pelo meu nome, fora de si, você não poderia me ver. Já eram vinte e três horas e trinta minutos, você me levaria para a casa mas agora eu teria que ir sozinha, peguei uma carona, cheguei em casa, tomei um banho e deitei, eu estava exausta, afinal, era sexta e sextas não são tão boas assim, acordaria no sábado e tudo estaria melhor. Era o que eu achava. Depois daquela sexta, os sábados não eram os mesmos. Você estava cada vez mais mudado e eu, mais distante. Até que numa sexta tomei banho e te esperei no sofá da sala. Você não veio. Sábado conversamos e você partiu. Desde então os sábados não existem mais, talvez eu possa ter romantizado-os tanto que os transformei em você. Restaram-me as sextas que me levam direto aos domingos e você sabe como eu detesto os domingos. Não me pergunte quando os sábados voltarão. Agora, eles não existem mais. Talvez você me salvaria de dias como esse, me buscaria e escolheríamos o filme e o que iríamos comer, porque hoje seria sábado, mas o vejo como sexta e as sextas não são tão boas assim, estou exausta.