Do inferno sartriano ao suplício do BBB
“Íris, Diego e Fani estão na mira da produtora de filmes pornôs As Brasileirinhas, a mais famosa do ramo, para estrelar um de seus vídeos. Empolgada com o sucesso e a popularidade do trio dentro do BBB, a empresa já está com o telefone das famílias deles e pretende começar a negociação em breve.” (Notícia do último BBB)
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Ultimamente, na mídia local, um apelo aos menos desavisados tem espetado meus neurônios: “torcer para uma piauiense participar do Big Brother Brazil”. Mais uma vez, o retorno do famigerado reality show e sua apelação midiática, corroendo o cérebro do João Erudito (doido em honrar sua erudição) e elevando o priápico do Zé Ruela (ávido por uma masturbação).
Nessa hodierna baboseira televisiva, a seleção dos candidatos não é tão diferente da escolha das companhias de mesas de bar dos redutos de prostituição de “catigoria” da nossa capital – recheados de homens públicos piauienses de boa vontade: idade amena, bundas, rostinhos bonitinhos, bundas... E nesses quesitos (amplamente divulgados pela mídia), nossa quase futura participante piauiense, mata a pau! Em questão de cerebelo, ver-se-á “Entre quatro paredes.” Nesse seu futuro aprendizado de strip-tease televisivo, o que me atordoa é o parafraseamento de um dito popular: “dizes aonde 'ondas', que direi de qual maré tú és...”!
Afora o consenso da qualidade plástica (pele, bundas, músculos...), o contrapeso (condição social, nível intelectual...) é sempre decidido nos bastidores enganadores pelos adeptos do “quanto pior, melhor”; afinal, nesse terrorismo midiático – travestido de eufemismos e pieguices bundais (e bosais), com características de “inutilidade global” -, o que não constrange não dá ibope. E como nem só de bunda vive o homem, vamos torcer pelo menos mal... Melhor!
Em meio a essa agonia priápica, volta-me à cena – na obra “Entre quatro paredes” – a visão sartriana do inferno: sem correntes, sem chicotes, sem carrasco e sem trabalhos forçados; apenas uma sala de estar onde três condenados são obrigados a suportar-se, “exercitar e resolver um dos maiores problemas dos homens na Terra que é a tolerância e o convívio harmônico entre si..."
Revendo o modismo - em princípios dos anos sessenta - das citações de máximas existencialistas de Jean-Paul Sartre, convenhamos: sua visão de total liberdade do ser humano, dentro da "Rede-Bobo" em que se prolifera o BBB, está (embora deturpada) mais atual do que nunca: “O inferno são os outros”. Nesse parâmetro de existencialismo, uma das minhas concepções sobre o inferno - a céu aberto - tende a se reiniciar: suportar mexericos, na mídia e na clausura dos botecos apinhados de filósofos de plantão, das baboseiras do BBB. Suportemo-los, então!
Nessa causa, como bom nordestino/piauiense, antes de tudo um fraco pelas boas formas e performances de nossas conterrâneas, deixarei o medo nos intervalos e não me estigmatizarei como o baluarte do contra arbítrio e traidor da causa libidinosa da reinante famigeração global – com adeptos nas favelas e portas de universidades: "O medo existia enquanto tínhamos esperança”. Dessa vez, se a nossa “muleca” adentrar no “tô de olho em você”, penso em assirtir - mesmo indo de encontro às secreções e excreções de minhas verdades sobre o ridículo midiático e seus apresentadores/consumidores de plantão. Afinal, “verdades são velhos clichês saturados, e as mentiras é, que muitas vezes, conseguem ser originais”.
Ao pular da frigideira para o fogo, para minha overdose de besterolismo televisivo, bem poderiam poupar-me de ver no comando do BBB um “Lúcifer” menos paradoxal: assistir Pedro Bial à frente desse sacrifício de cérebros (mas que dá ibope) é o cumulo da aceitação de que bons jornalistas, também, não resistem ás tentações dos infernos televisivos – ou são obrigados pelo medo da falta de um “céu seguro” no seu bem estar profissional!?
Só espero que este inferno global não se torne como o sartriano: uma eternidade para os condenados!
Até mais ler pelos “infernos globais” que nos colocam em uma estufa de niilismos incidentais!