7193-BENDITO TREM DE FERRO da Rede Ferroviária Federal-RFFSA - Crônica - Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
7193-BENDITO TREM DE FERRO
da Rede Ferroviária Federal-RFFSA
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Crônica nº 5904-Premiada em 1997.
Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
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Na década de 60, o transporte ferroviário era muito valorizado pelos passageiros, com poucas opções de transporte rodoviário. Havia o TREM N1, mais rápido, que atendia especialmente, os passageiros de elite e, por isso, tinha parada somente nas Estações das cidades de maior população. O horário do TREM BAIANO era marcado em Conselheiro Lafaiete e Congonhas, porém não parava na pequena cidade de Belo Vale. A espera do TREM MISTO de passageiros e de cargas fazia o percurso, sem pressa. Os passageiros eram os felizes, estudantes do Colégio das Irmãs Auxiliadoras de Nossa Senhora da Piedade de Congonhas e das cidades de Lafaiete, Casa de Pedra, Jeceaba, Moeda, Belo Vale, Brumadinho, Sarzedo entre outros assíduos comerciantes, funcionários da própria Rede Ferroviária Federal.
O aspecto social desse tipo de transporte teve grande peso na economia estadual, pois na concorrência, os vagões de primeira e segunda classes estavam sempre cheios. A Rede Ferroviária sempre priorizou o atendimento aos TRENS CARGUEIROS DE MINERAÇÃO e, por isso, as pessoas aguardavam na Estação, até 2 ou 3 horas para seguir a viagem doméstica, que também era muito lenta.
Em países mais desenvolvidos, o TRANSPORTE FERROVIÁRIO já estava operado por controle remoto, que dispensava maquinistas, e o único empregado era o comissário de bordo, que fiscalizava a entrada dos passageiros nas roletas, com bilhetes pré-pagos. Carregavam centenas de pessoas em curto espaço de tempo. No trilho de concreto, sobre o qual corre o trem, mas sem nele tocar, ainda hoje, há um sulco de contato de automação e controle de tecnologia, contendo o elemento linear que fica ligado ao motor.
Pois bem, com tantos avanços tecnológicos em relação ao transporte ferroviário nos Estados Unidos, Japão, Canadá, URSS, a Rede Ferroviária Federal continuava a investir no transporte do minério de ferro. Havia até 90 vagões, contendo em cada um, 116 toneladas da matéria prima do solo brasileiro para fábricas brasileiras e estrangeiras. O destino certo apontava para a Estação de Águas Claras, Rio de Janeiro, São Paulo, para serem exportadas para a devida transformação de nossas riquezas minerais em produtos de importação do próprio Brasil!
É nesta reflexão que se faz a análise do papel que a REDE assumiu colaborando para o transporte da riqueza incomparável do solo brasileiro! Até quando? Só até quando houver minério? Onde está a coragem do povo de defender os seus direitos de cidadãos? Não haverá sindicato para impedir este transporte de minério? Nem LEI que possa impedir esta venda de matéria prima? As Serras vão sendo destruídas, as matas devastadas, as minas de água sumindo...Quanto imposto rende às prefeituras? É mais barato o transporte ferroviário, mas interessa a venda de gasolina para compensar o gasto com estradas rodoviárias? Por que não há investimento maior para melhorar o transporte humano?
E agora, eu me permito ao saudosismo! Quero agradecer aos maquinistas dos TRENS que me levaram para casa, nos fins de semana. Talvez seja a única vez que o faço com tanto apreço, apesar daquele tempo interminável de espera do trem que só passava atrasado. Minha viagem no trem MISTO durava quatro horas ou mais, mas o percurso de carro, hoje faço em 50 minutos.
Que saudade dos lanches vendidos dentro dos trens! Comia aquele pastel frio e apimentado, com tanta fome e gosto, que nem fazia mal ao estômago. Eram enormes as filas de pessoas para a compra das passagens. Sempre arranjava um papo com os companheiros da fila, para que não percebêssemos a demora... Quantas amizades e até conquistas, flertes e namoricos...rsrsrsr. Por que não lembrar do lindo namorado que marcava meu lugar ao lado dele, só para viajarmos juntos, até a cidade onde ele residia...Quanta saudade do FISCAL do TREM que fazia todos rirem por causa de suas irritações com os rapazes que não tinham dinheiro para pagar suas passagens...Após longas conversas entre eles, alguém pagava a conta e a multa, ou iam ao extremo de terem de descer nas próximas estações....Alguns rapazes tinham a coragem de viajarem dependurados nos mais estranhos lugares da parte externa do TREM...Quanta loucura! Uma verdadeira arte circense...Quanta elegância dos AGENTES DAS ESTAÇÕES, que usavam o terno azul escuro, com camisa social, muito branca, engomada, gravata, abotoaduras de ouro, sapatos pretos bem engraxados, bonés com o lindo emblema da RFFSA...
Que saudade do alfabeto MORSE que aprendi a manusear, pois meu irmão era um CHEFÃO na RFFSA. Naquele tempo, ele não me permitia entrar na SALA de COMANDO, mas eu ficava sempre por lá, quando criança, para ouvir os sons que logo aprendi. Sempre tive bons ouvidos... Da janelinha da sala ao lado, na Estação, eu sabia o que significavam aquelas batidas, mesmo sem ler a mensagem do telegrama que chegava no alfabeto Morse. A maquininha não passava de trinta centímetros....
O que eu gostava mesmo era da TURMA do VIOLÃO que sempre formava um grupo de cantores e violonistas, com repercussão afinada para o acompanhamento de dezenas de cantores. Uma verdadeira seresta que ensaiava todos os fins de semana, durante as viagens...Eram certos os convites para as horas dançantes nas cidades próximas! Como era saudável viajar de TREM...
Hoje, agradeço, mais uma vez, por aqueles momentos inesquecíveis que estive entre os passageiros, por isso, posso afirmar: -“Bendito trem de ferro da Rede Ferroviária Federal, responsável por tantas alegrias da minha juventude de estudante tão feliz, ao encontro de meus familiares, na cidade de Belo Vale/MG.
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(*)Medalha Crônica: “ Bendito Trem de Ferro” Concurso da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete-MG-Junho de 1997.Prêmio concedido à autora Sílvia Araújo Motta-
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https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6951937
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https://academiadeletrasdobrasildeminasgerais.blogspot.com/2020/05/cronica-de-silvia-araujo-mottabendito.html