Quando eu envelhecer vou deixar os cabelos brancos encaracolados livres das amarras do esteriótipo perfeito e, espero que fiquem brilhantes como se fossem algodão do campo. Quem sabe assim não consigo atrair alguns poucos interessados em manutenção da ascendência como patrimônio imaterial, mesmo que seja colocada à esquerda no baú de uma época numa cadeira de balanço antigo.
Tenho algumas pretensões que fogem à realidade, não é à toa que já ando pesquisando projetos futuros para condomínios para a terceira idade, com atendimento médico e hospitalar exclusivo e atividades em grupo, onde vivem e reinam aqueles que o “tenta” acompanha. Tenta esticar o braço, tenta sorrir sem fazer xixi, tenta manter a coluna ereta, tenta calçar os sapatos.
Não quero ser peso para noras ou genros que salpiquem ódio nas costas, temperando a relação conjugal à ponto de causar desgosto nos filhos.
Não posso permitir que num futuro próximo olhem para mim como se fosse apenas mais uma entre os muitos, prefiro acreditar que ostentarei com alegria o status de inumerável, claro, se estiver entre os iguais.
Não posso cair no colo dessa geração perversa que trata a idade como se fosse sinônimo de inutilidade, mesmo que a expectativa de vida tenha sido ampliada e os novos velhos gozem de ótima saúde.
- E só morrem os acima de 60 anos. Relativizar é tão cruel, Bertold Brecht já citava com maestria: “ Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro/Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário/Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei com isso/Porque eu não sou miserável/Depois agarraram uns desempregados/Mas como tenho meu emprego/Também não me importei/Agora estão me levando/Mas já é tarde”, como se estes, não tivessem relevância alguma, fossem meras estatísticas num país que vive perdendo a sua memória.
Envelhecer é ordem natural da evolução física e deveria vir com um passaporte para a posteridade, já que as gerações antecedentes sempre desbravaram horizontes. Quem não honra o passado não deveria ter credencial de acesso ao futuro. E foi assim, no relativismo social que os nazistas destruíram nações.
Como se não bastasse a solidão, companhia certa dos que carregam algodão sobre a mente, as incertezas e as rugas que não se restringem às vistas a olho nu, mas aquelas que marcam a alma e o coração compilados de sabedoria, junta-se à tristeza de se ver feito mala de viagem, lascada, manca e carregada pelas alças. Não é só o peso da idade, mas também a curvatura que exige bengala para a continuidade dos passos.
E, que apesar disso, eu tenha coragem de envelhecer com esperança e não me entregue a dor de ser vista como estorvo a ponto de feito Migliolli, esquecer o que me trouxe até aqui.
Se a dor do outro não lhe comove, decerto já está doente... Como eu queria colocar todos os “doninhos” e “doninhas” na caixinha e guardá-los da decepção que lhes resguarda o mundo, onde o maior vírus, o pandêmico, é a falta de empatia. Mas os anos vem aí, é só não envelhece quem já morreu!
Tenho algumas pretensões que fogem à realidade, não é à toa que já ando pesquisando projetos futuros para condomínios para a terceira idade, com atendimento médico e hospitalar exclusivo e atividades em grupo, onde vivem e reinam aqueles que o “tenta” acompanha. Tenta esticar o braço, tenta sorrir sem fazer xixi, tenta manter a coluna ereta, tenta calçar os sapatos.
Não quero ser peso para noras ou genros que salpiquem ódio nas costas, temperando a relação conjugal à ponto de causar desgosto nos filhos.
Não posso permitir que num futuro próximo olhem para mim como se fosse apenas mais uma entre os muitos, prefiro acreditar que ostentarei com alegria o status de inumerável, claro, se estiver entre os iguais.
Não posso cair no colo dessa geração perversa que trata a idade como se fosse sinônimo de inutilidade, mesmo que a expectativa de vida tenha sido ampliada e os novos velhos gozem de ótima saúde.
- E só morrem os acima de 60 anos. Relativizar é tão cruel, Bertold Brecht já citava com maestria: “ Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro/Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário/Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei com isso/Porque eu não sou miserável/Depois agarraram uns desempregados/Mas como tenho meu emprego/Também não me importei/Agora estão me levando/Mas já é tarde”, como se estes, não tivessem relevância alguma, fossem meras estatísticas num país que vive perdendo a sua memória.
Envelhecer é ordem natural da evolução física e deveria vir com um passaporte para a posteridade, já que as gerações antecedentes sempre desbravaram horizontes. Quem não honra o passado não deveria ter credencial de acesso ao futuro. E foi assim, no relativismo social que os nazistas destruíram nações.
Como se não bastasse a solidão, companhia certa dos que carregam algodão sobre a mente, as incertezas e as rugas que não se restringem às vistas a olho nu, mas aquelas que marcam a alma e o coração compilados de sabedoria, junta-se à tristeza de se ver feito mala de viagem, lascada, manca e carregada pelas alças. Não é só o peso da idade, mas também a curvatura que exige bengala para a continuidade dos passos.
E, que apesar disso, eu tenha coragem de envelhecer com esperança e não me entregue a dor de ser vista como estorvo a ponto de feito Migliolli, esquecer o que me trouxe até aqui.
Se a dor do outro não lhe comove, decerto já está doente... Como eu queria colocar todos os “doninhos” e “doninhas” na caixinha e guardá-los da decepção que lhes resguarda o mundo, onde o maior vírus, o pandêmico, é a falta de empatia. Mas os anos vem aí, é só não envelhece quem já morreu!