METÁFORAS, LEMBRANÇAS E RETICÊNCIAS...

Em tempos de falta de calor humano e ausência de flores, beijos e toques, perceber-se frágil mediante à pequenez da vida humana tem sido como uma folha de outono: pífia, que com a brisa leve do vento se desprende dos galhos secos para anunciar que tempos de inverno e escassez estão por vir.

E quando o afeto tem se tornado se cada vez mais escasso e frio, como não falar daquilo que implode os nossos ventrículos e consome fervorosamente o nosso âmago sem pudor? Como não lembrar das borboletas que borbulhavam no estômago enquanto olhares se cruzavam e se desejavam?

Como não falar de amor?

Daquele amor que calorosamente aquece a nossa alma enquanto a vida arranca as nossas folhas com um outono?

Lembro das tardes de domingo sob a companhia do sol, das declarações que ouvi e dos poemas que recitei. Saudade tem gosto de beijo molhado, de sussurros ao pé do ouvido, de vinho com caixa de bombom, de cartas de amor com marcas de batom.

Revivo fotos que tirei. Percorro sorrisos que viajei. Finalmente entendo que viver não cabe no lattes, e que amar não cabe numa agenda de contatos.

Enquanto meus pulmões não colabam com este caos em que o afeto se perdeu, vou ressuscitando memórias, e esperançoso estufo o peito inerte com o fôlego de quem tem paixão pela arte da vida e pela poesia do amor...

Reflito...

Avisto lá no horizonte a esperança estampada em fogos de artifício, desfazendo nós e criando laços, prevejo cartas de amor que se declaram, olhares que se beijam e mãos que se dispam e confluem nas nuances mais cruas e nuas do amor...

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Ansioso, aguardo a continuação destas reticências, o desabrochar das flores, o canto dos pássaros e o esplendor do amor.

Sei que o outono vai acabar, e a primavera vai chegar.