Sonho

Era mais uma madrugada em que eu passava em claro. Mais uma, que eu resolvia render-me à insónia. Poderia conversar com alguém interessante, poderia assistir algo interessante ou mesmo dormir. Contudo, resolvi rever todas as nossas fotos, reler todas as nossas mensagens, sonhar com um futuro improvável mas desejável para todo casal. E eu não tava nem aí, se já faziam dez meses que você havia partido, pois para mim, os outros nove que tu ficastes , foram muito mais importantes.  

Pensei muitas vezes em formas para aliviar a dor ou até acabá-la. Mas sou frágil. A fragilidade me faz apenas chorar e dormir. Justo eu, logo eu, que viro noites e pouco me emociono. Confeço ter tentado entrar na moda dos jovens e mutilar-me. Mas, seriam marcas que me fariam criar outras e mais outras, fazendo-me nunca parar de sangrar sobre as pessoas que me sustentam e me apoiam. A ingratidão que eu sentiria pelo o que tornaria-me, seria tão grande quanto a angústia que você causava-me.  

Resolvi lhe superar. Deixar de ti esperar. Cessar o meu sofrer. De alguma forma a esquecer. Que decisão não é? Decisão essa que me veio a partir de que tu me fizestes, então, obrigado. 

Na volta para casa, alguém ou algo me acertou bem no peito, bem encima do brasão da farda. O sangue escorreu como se quisesse fugir de mim. Estou no céu. Deus me deu uma chance para me despedir. Só quero lhe dizer que dream, significa sonho. Acorda! Tá na hora de você ir para a escola.  

Ivan Dos Santos
Enviado por Ivan Dos Santos em 18/05/2020
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