A sacola dos tesouros
O trem se aproximou naquela tarde chuvosa e fria, tudo o que Sara queria era um lugar para sentar e poder descansar as pernas depois de ter andado tanto.
Assim que as portas se abriram entrou e seguiu rapidamente para o primeiro assento vago, no entanto no cantinho daquela poltrona algo lhe chamou a atenção. Era uma sacola plástica e assim em um segundo Sara pode reparar que o senhor do assento ao lado a puxou para si como se nela houvesse o mais valioso tesouro, ele levantou os olhos em direção de Sara assentindo para que agora ela se sentasse com um sorriso tímido.
Quando Sara lançou sua atenção as mãos enrugadas e tremulas daquele homem, notou que ele segurava, com um misto de pesar e amor, algumas fotografias.
As pessoas sorriam no papel fotográfico antigo, as cores um tanto apagadas denotando os anos que já se passaram desde aquele instante.
Sara percebeu que aquele senhor ao seu lado, com o corpo magro e miúdo, de olhos castanhos profundos, trajando uma camisa xadrez e um casaco verde, simplesmente não estava de fato ao seu lado. Ele estava em outros tempos, totalmente envolto em suas memorias, mergulhado em um passado desconhecido, ele estava só.
Por alguns minutos, Sara gostaria de ter algo a lhe dizer. Mas ele apenas guardou a imagem junto as demais, em sua sacola plástica e partiu daquele trem na estação seguinte.
“Por que isso mexeu comigo?” - questionava-se Sara enquanto procurava uma resposta para os olhos marejados de lagrimas.
De alguma maneira aquele homem poderia ser seu pai com seus quadros espalhados pela casa, ou poderia ser ela mesma, afinal também guardava em si seus próprios tesouros.
O fato que realmente lhe havia causado profunda reflexão, foi a compaixão que sentiu ao perceber a solidão do senhor, nem mesmo um trem lotado de pessoas poderia ocupar o vazio da saudade de um tempo remoto, de pessoas que não estavam mais ali. Ele apenas seguiu seu caminho enquanto Sara podia vê-lo pela janela.
“Só quero que quando eu deixar meus tesouros a mostra, eu possa apenas assentir com um sorriso tímido para que algum desconhecido sente-se ao meu lado e também ache isso tudo tão importante.”