Em Tempos de Confinamento XXIX - Efeitos Colaterais

Esse isolamento ou distanciamento social a que nos vimos obrigados a observar trouxe, além das já tantas vezes faladas inconveniências, alguns efeitos colaterais interessantes.

De repente, notamos que alguns hábitos que tínhamos e serviços e coisas de que desfrutávamos como necessários não são tão necessários assim, ou são totalmente desnecessários.

Coisas que contratamos muito tempo atrás e que provavelmente faziam sentido naquele contexto, depois mantivemos, simplesmente por inércia, porque já estavam lá e não questionamos, deixamos prosseguir.

Eu tinha uma excelente empregada doméstica que vinha todos os dias, de segunda a sexta-feira. Em setembro passado ela se aposentou. Contratei outra pessoa e tentei um sistema no qual ela viesse três vezes por semana. Funcionou. Agora, com a pandemia e os riscos associados, combinei com ela para vir apenas uma vez por semana, obviamente mantendo o salário integral e pagando um carro particular para trazê-la e leva-la. Não é que também funcionou?! Está sendo suficiente.

Em 2002, contratei uma fisioterapeuta para vir e me ensinar exercícios para não permitir que meus músculos se atrofiassem, como parecia que estava para acontecer. Depois de um tempo, claro que eu já sabia que exercícios fazer, mas mantive a prática achando que, se ela não viesse, eu não teria disciplina para continuar com aqueles exercícios. Há dois meses que ela não vem mais e estou fazendo, sozinho, todos os exercícios, todos os dias.

Preciso mesmo cortar o cabelo todos os meses?

Antes de me aposentar, saía de carro todos os dias para trabalhar. E pagava ao porteiro para lavar meu carro quase todos os dias, de modo a mantê-lo sempre limpo. Depois que me aposentei, o carro quase não sai da garagem. Mas ele continua lavando e eu pagando. Não que esse valor me faça diferença, tanto é que continuo pagando. Mas que é desnecessário, lá isso é.

Assim como eu, imagino que muita gente da classe média deve estar passando por situações semelhantes.

O ponto agora é: o que fazer quando acabar esse pesadelo? Tanta gente que precisa vai perder os empregos e receitas para sempre? Ou ver drasticamente reduzida a demanda por seus serviços?

Não sei.

Nelson Moczydlower
Enviado por Graco Jakal em 17/05/2020
Código do texto: T6950310
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