A ARTE DE FATIAR
Prof. Antônio de Oliveira
Para Carlos Drummond de Andrade, quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, isto é, de fatiar, esfatiar o tempo, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Assim, digo eu, na esteira desse “indivíduo genial”, consumimos o bolo da vida, datando cada fatia em dia, mês e ano e vivendo um dia de cada vez.Estendendo essa ideia, ocorre-me pensar no saber de cada pessoa e na maneira como cada pessoa distribui seu saber independentemente de ensinar na carreira do magistério.
Chego à seguinte conclusão elementar: o saber é distribuído em fatias. O próprio Jesus ensinava por meio de parábolas. Digamos, cada parábola era uma fatia de sua doutrina desfiada em “O reino dos céus é semelhante a ...”Um livro, um conteúdo programático é dividido em unidades, subunidades, etc. Uma lei, em artigos. E, muitas vezes, usamos apenas um artigo da lei, uma fatiazinha, para justificar um pleito.
“Sliceoflife”, em inglês, “tranche de vie”, em francês e, em português, fatia de vida é uma expressão que define, descritivamente, a representação naturalista através de experiências cotidianas em arte e entretenimento. ‘... uma fatia da vida colocada no palco com arte”. Uma fatia puxa outra. Sem a especificidade da expressão, fatias de vida, cenas de vida.Mensagens curtas estão na ordem do dia. O instagram, por exemplo, tem esse formato. Adequado, pois, para transmitir fatias do saber, dicas, pensamentos, recados curtos e rápidos.
A visão do todo é diferente da visão das partes, das fatias. Quando se fatia um bolo vemos seu interior. Sua composição, constituição. Uma fatia é uma amostra. Em Belo Horizonte, no Mercado Central, os queijeiros oferecem uma fatia de queijo como prova para o eventual cliente. Fatia de parida, fatia dourada e mãe parida são sinônimas de rabanada, feita de fatia de pão. Eh! De fatia em fatia, digo, de grão em grão a galinha enche o papo. De dias e noites, fatias do tempo, se faz uma existência humana. “Carpe diem!...”