DAS CONTRADIÇÕES DA BONDADE
Como todos os pais que puderam levei meu filho para assistir Vingadores: Guerra Infinita. O que mais me impressionou no filme foi a face de satisfação do Thanos, o vilão da narrativa, quando fez desaparecer metade da vida consciente do Universo. Parece algo diabólico, mas em uma análise mais profunda não é. Ele desejava um bem maior e via naquele ato a única forma de consegui-lo.
Voltei a pensar nessa cena ao assistir uma aula hoje de terapia comunitária. A professora contava orgulhosa das suas atividades no centro de São Paulo. Conheci outras pessoas que também faziam coisas maravilhosas. Uma senhora de mais de 70 anos que sozinha levava café e pão para usuários de drogas, assistentes sociais que procuravam ajudar essas pessoas, e outras. São exemplos de bons samaritanos, que estavam fazendo o certo, o bom. Mas para os administradores de São Paulo essas pessoas estão fazendo a pior coisa possível. A presença de intensa concentração de drogados em áreas comerciais e de interesse turístico atrapalha os negócios e são esses que geram renda, que ajudam um maior número de pessoas. Ao receberem ajuda ali, os usuários de drogas acabam ganhando um reforço para continuarem ali. E afastando as pessoas que trariam renda e empregos para a região. Existe uma série da HBO chamada The Deuce, que conta o processo de transformação do centro de Nova York entre as décadas de 70 e 80. As ações dos administradores e da polícia são muitas vezes cruéis e iniquas, mas ajudaram o lugar a se transformar de uma boca do lixo em um grande centro comercial e turístico, gerando renda e empregos. As obrigações de uma pessoa como ser humano e como administrador podem ser ao mesmo tempo as mesmas conceitualmente e dietralmente opostas na prática.